Cotidiano

Ataque a carro da PM faz subir número de policiais mortos: 58

ataquepm.jpgRIO – Victor Eric Braga Faria saiu de casa para trabalhar em um dia que deveria estar de folga, e, horas após aceitar o pedido de um colega de farda para trocar de plantão, acabou se tornando o 58º agente de segurança pública assassinado este ano no Estado do Rio, segundo a CPI dos Policiais Mortos da Assembleia Legislativa. O soldado de 26 anos, lotado na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Lins, levou um tiro na cabeça enquanto dirigia um carro da PM pela Rua Barão do Bom Retiro, nas proximidades do antigo jardim zoológico da cidade, no Engenho Novo. No ataque, ocorrido na noite de domingo, um outro policial, Rafael Vinícius de Oliveira Melo, que estava no banco do carona, foi ferido, mas sem gravidade.

O policial assassinado, que estava desde 2012 na PM, era casado e deixa um filho de 3 anos. De acordo com a escala de plantão da UPP do Lins, Victor começaria seu expediente no domingo pela manhã, mas um amigo lhe propôs uma troca de horário e ele acabou pegando o turno da noite. Por volta das 22h, Victor e Rafael realizavam um patrulhamento de rotina pela Barão do Bom Retiro quando um grupo de bandidos fez uma série de disparos contra o carro dos PMs. Segundo testemunhas, os policiais não chegaram a abordar os criminosos. Baleado, o soldado perdeu a direção e o veículo bateu em um poste. Os responsáveis pelo ataque fugiram em seguida. Violência – 11/07

Victor chegou a ser levado para o Hospital Naval Marcílio Dias, no Lins, mas faleceu antes de receber os primeiros socorros. Rafael, atingido numa mão, foi medicado no Hospital Central da PM, no Estácio, e recebeu alta ontem. A Divisão de Homicídios da Polícia Civil investiga o caso. Segundo o delegado Fábio Cardoso, há indícios de que três homens participaram do ataque. Ontem, um suspeito foi preso por policiais militares. De acordo com investigadores, ele roubou um carro perto do local onde Victor foi assassinado. Reconhecido pelo proprietário do veículo, o assaltante seria irmão de um dos chefes do tráfico do Morro dos Macacos, em Vila Isabel.

ENTERRO E PROTESTO

O soldado foi enterrado ontem à tarde com honras militares no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Dezenas de PMs saíram em comboio da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, em Bonsucesso, até o local da cerimônia. Victor ingressou na PM para seguir os passos do pai, que hoje está aposentado. Mesmo com a saúde debilitada, ele fez questão de acompanhar o sepultamento do filho.

Cunhado de Victor, o artesão Agnaldo dos Santos Oliveira disse que o policial estava com medo de trabalhar e planejava deixar a PM:

? Ele vinha se queixando muito de toda essa violência. Chegava em casa e ficava estranho, calado. Sempre se trancava no quarto. Já pensava em iniciar um tratamento psicológico porque estava com muito medo, queria largar a polícia. A verdade é que os policiais do Rio não têm estrutura para trabalhar.

soldado.jpgO comandante-geral da PM, coronel Edison Duarte dos Santos Júnior, compareceu ao enterro de Victor, mas não quis dar entrevistas. O porta-voz da corporação, coronel Oderlei Santos, também presente à cerimônia, afirmou que a Polícia Militar vem tomando ?medidas operacionais? para acabar com a onda de assassinatos de PMs no estado. Parentes de policiais criticaram o que consideram uma omissão do estado em relação à tropa e à segurança pública em geral.

? Meu filho trabalha na UPP da Fazendinha e todos os dias troca tiros com bandidos. Aquilo é um inferno. Por trás de uma farda não está apenas um policial; há um pai, um marido, um filho. Estamos cansados de enterrar policiais no Rio ? disse uma mulher.

Após o enterro, parentes de policiais fizeram um protesto na Avenida Brasil, na altura de Guadalupe, em frente ao Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da PM. Eles exibiram cartazes e bonecos com fardas da corporação manchadas de tinta vermelha, representando sangue.

OUTROS CINCO ASSASSINATOS DESDE JUNHO

Há uma semana, o terceiro-sargento Alexandre Moreira de Araújo, de 44 anos,
morreu durante um tiroteio com traficantes na Favela do Rola, na Zona Oeste. Na
ocasião, parentes do policial criticaram o fato de ele ter sido escalado pelo
comando do 27º BPM (Santa Cruz) para uma operação em seu primeiro dia de serviço
no batalhão.

A família afirmou que, nos últimos anos, o policial fazia apenas serviços
burocráticos. Um colega de farda também disse que o terceiro-sargento não estava
preparado para participar de uma operação numa das áreas mais violentas da
cidade.

Ainda na semana passada, outro assassinato: a do sargento reformado da PM
Márcio Portes, baleado durante um tentativa de assalto em Itaguaí. Ele dirigia o
próprio carro quando foi atingido. No início do mês, o sargento Wendel de Paula
Lima morreu depois de ser baleado por bandidos numa tentativa de roubo em Nova
Iguaçu. Lotado no Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPTur), ele
passava de carro pela Estrada de Austin quando foi atacado. O PM estava próximo
ao Morro da Moenda e percebeu que um veículo à sua frente era alvo de um
assalto. Wendel teria engatado a ré, colidindo com um outro carro.

Os criminosos perceberam a movimentação e foram até o
carro do policial, que estava acompanhado da família. Wendel saiu do veículo com
as mãos para o alto, de acordo com parentes. Os bandidos, que teriam visto a
arma do PM em cima de um banco, mataram o sargento com vários tiros.

Em junho, o corpo do soldado José Josenilson Alves dos Santos, de 30 anos,
lotado na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Manguinhos, foi encontrado no
acesso da Rodovia Washington Luís à Avenida Brasil, na altura da comunidade
Cidade Alta, em Cordovil. Ele foi achado com várias perfurações.

No mesmo dia, foi morto o tenente da PM Denilson Theodoro de Souza, de 48
anos. Ele integrava a equipe de segurança do prefeito Eduardo Paes e foi baleado
na Pavuna. O oficial seguia para a casa do sogro quando foi abordado por quatro
bandidos, que já tinham roubado um veículo. Segundo a família, ao ser rendido, o
tenente tentou pegar sua carteira, mas os criminosos teriam acreditado que ele
pretendia sacar uma arma.