Cotidiano

Astrônoma lamenta ?fuga de cérebros? na ciência brasileira

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SÃO PAULO ? Apesar de paulistana, a astrônoma Duília de Mello cresceu no Rio e lembra com orgulho dos tempos da faculdade de astronomia na Universidade Federal do Rio de Janeiro: ?A melhor do Brasil?, define. A astrônoma que atua em projetos na Nasa, no entanto, se preocupa com a falta de investimentos em ciência, área que a levou, ainda em 1995, a seguir carreira no exterior.

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? É uma crise que o Brasil está passando. Já está acontecendo a evasão dos gênios. Acontece todo dia a fuga de cérebros, como a gente chama. Eu fico preocupada porque o Brasil precisa de investimento em ciência, tecnologia e inovação ? disse.

Duília de Mello foi uma das palestrantes do terceiro dia da Campus Party, festival que ocorre desde terça-feira no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo. A astrônoma é uma das cientistas que atuam com o telescópio Hubble desde 1998 e uma das responsáveis pela descoberta das bolhas azuis, aglomerados de estrelas formados fora de galáxias. Duília também descobriu a supernova SN 1997D. Durante a palestra, a astrônoma contou bastidores da atuação no Hubble e como as imagens do telescópio são geradas.

O sucesso no exterior ocorreu graças a um corte de gastos no investimento em pesquisa, ainda em 1995. A astrônoma decidiu deixar o Brasil após receber uma carta do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) avisando que os investimentos para recém-doutores diminuiria em 50%.

? Eu investi a minha vida fazendo doutorado e não via uma sociedade que valorizava isso. Isso é uma pena porque o Brasil é um país que precisa de cientistas ? afirmou.

MULHERES NA CIÊNCIA

A palestra de Duília de Mello ocorreu em um dia em que outras mulheres também foram destaques na Campus Party. O feminismo e a atuação das mulheres nas áreas de ciência e tecnologia foram temas de outras palestras durante o terceiro dia. Segundo informações da organização do evento, a porcentagem de mulheres, que no primeiro ano era de 3%, hoje está em 36%.

Apesar do avanço, a situação ainda não é ideal. Sócia da Infopreta, empresa de tecnologia e inovação que contrata apenas mulheres negras, Buh D?Angelo, de 22 anos, acredita que não existe reconhecimento técnico.

? Se houvesse, eu estaria na mesa de robótica, computação. A gente faz o papel de ativista ? disse Buh, que deu palestra esta quinta-feira e é especializada em eletrônica, automação industrial e robótica. ? A primeira vez que eu vim aqui, fiquei na porta. As pessoas têm que observar isso.

Para Duília, a participação de mulheres no setor tecnológico ainda é um problema.

? Não é que a menina deva fazer ciência porque é legal, mas porque ela gosta, porque ela é competente, porque ela quer fazer ? disse.

Segundo a astrônoma, o ideal é que sejam apresentados exemplos para as meninas, ainda na infância, se sentirem inspiradas.

? A mulher deve mostrar para a menina o que ela pode alcançar, porque, se ela não vê um exemplo, ela se intimida. Você tem que ver as mulheres bem-sucedidas para ver que você pode ser também ? afirmou.

(* Estagiário, com supervisão de Flávio Freire)