Cotidiano

Associações de realizadores reivindicam assento no Conselho Superior de Cinema

RIO ? Entidades que representam realizadores de cinema enviaram uma carta ao ministro da Cultura, Marcelo Calero, reivindicando assentos no Conselho Superior do Cinema (CSC). De acordo com o texto, entre os nomes que passarão a integrar a nova composição do CSC não há uma único representante das associações de realizadores, quebrando uma tradição vários anos.

O Conselho Superior de Cinema foi criado em 2001 com o objetivo de ajudar a formular políticas para o cinema nacional. Entre as suas competências, também estão a aprovação de diretrizes gerais para o desenvolvimento da indústria audiovisual e o estímulo à presença do conteúdo brasileiro nos diversos segmentos de mercado.

Procurado, o Ministério da Cultura ainda não se manifestou.

Segundo um integrante da Associação Paulista de Cineastas (Apaci), o MinC solicitou às entidades indicações de nomes para compor o conselho, mas nenhuma pessoa sugerida foi escolhida.

? Sabemos disso porque todas as pessoas cogitadas receberam um telefonema do MinC com o pedido de emissão de documentos. E ninguém das nossas associações recebeu esse pedido ? afirmou o membro da Apaci.

“Verificamos com perplexidade que, apesar deste Ministério ter consultado nossas entidades e solicitado que indicássemos nomes para compor o Conselho Superior de Cinema, não há representação nossa neste órgão pela primeira vez desde sua criação”, diz a carta, assinado por cinco entidades: Abraci (Associação Brasileira de Cineastas), Apaci (Associação Paulista de Cineastas), APCNN (Associação Produtores de Cinema do Norte e Nordeste), Aprocine (Associação de Produtores e Realizadores de Filmes de Longa Metragem de Brasília) e APTC (Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul).

“Vimos ainda salientar que, independente de méritos, não consideramos a eventual participação de um diretor de cinema no CSC como uma representação da categoria. As experiências individuais, por mais significativas que possam ser, não guardam a perspectiva do conjunto da categoria sem a necessária conexão e interlocução direta”, acrescenta.

Alguns profissionais do audiovisual estão em pé de guerra com o governo desde o início do processo de impeachment de Dilma Rousseff, que culminou com a posse de Michel Temer presidência.

Durante o Festival de Cannes, em maio, a equipe do filme “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, estendeu cartazes chamando de “golpe” o afastamento de Dilma da presidência. Meses depois, o longa, até então considerado favorito para representar o Brasil no Oscar, ficou de fora da disputa. No lugar, a Comissão do Oscar, formulada pelo secretário do Audiovisual, Alfredo Bertini, selecionou o filme “Pequeno segredo”, de David Schürmann, para tentar uma vaga na categoria de melhor filme estrangeiro. Muitos artistas e cineastas viram na escolha uma retaliação do governo contra a equipe de “Aquarius”.

Em julho, mais de 80 funcionários do Ministério da Cultura, incluindo quadros da Cinemateca Brasileira, foram demitidos. Entidades da classe cinematográfica brasileira divulgaram um manifesto contra as demissões. Dias depois, a pasta voltou atrás na decisão de exonerar cinco funcionários da Cinemateca, incluindo a coordenadora-geral, Olga Futemma, e mais quatro integrantes da equipe técnica. Todos foram reconduzidos aos seus cargos na instituição.