Cotidiano

Associação de cirurgiões publica nota sobre invasão no Souza Aguiar

nota-associacao.jpgRIO – RIO – O ataque de bandidos ao Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro do
Rio, para
resgatar o traficante Nicolas Labre
Pereira de Jesus, conhecido como ?Fat Family?
e que deixou um paciente morto e um
enfermeiro e gravemente ferido, levou a Associação de Cirurgia Pediátrica do Rio
de Janeiro (Aciperj) a
publicar uma nota. No texto, a entidade expõe medos e riscos a que os
profissionais de saúde dos hospitais públicos ficam constantemente expostos. Em
tom de desabafo, a nota, postada no site oficial da Aciperj, ressalta que a falta de segurança atinge
outras unidades de saúde do estado, como o Hospital estadual Getúlio Vargas, na
Penha, na Zona Norte; o Hospital municipal Rocha Faria, em Campo Grande, na Zona
Oeste; e o Hospital estadual Azevedo Lima, no Fonseca, em Niterói. Resgate – 20/06

Os médicos lembraram, ainda, que estão na mira da violência não apenas dentro
dos hospitais, mas a caminho do trabalho ou na volta de um plantão. O texto
recorda os casos de profissionais de saúde baleados nas vias expressas da
cidade. E faz referências à crise financeira do estado, que deixa a polícia ?mal
equipada?, colegas de enfermagem ?mal pagos? e ?pessoal da limpeza não
pago?.

E afirmam que o clima de medo atinge também os parentes dos médicos,
enfermeiros, auxiliares de enfermagem e outros profissionais que trabalham em
hospitais.

VEJA A ÍNTEGRA DA NOTA:

“NOTA OFICIAL: Hospital Municipal Souza Aguiar.

Nós, da CIPERJ, somos Souza Aguiar. Com certeza somos. Mas também somos
Getúlio Vargas, Antônio Pedro, Azevedo Lima, Albert Schweitzer, Rocha Faria. Todos tem bandidos
internados. E todos não têm segurança, nem meios de proteção. Também somos o
colega morto a tiros na Avenida Brasil quando voltava no plantão. Também somos a
enorme equipe do Hospital dos Servidores do Estado, ouvindo o tiroteio que
ocorreu nas imediações na última sexta à tarde, em pleno Porto Maravilha. Nós,
telefonando uns para os outros para saber se todos estavam bem, apesar de
tudo.

Somos nós, nós também, que temos maridos, mães, pais, filhos usando o
WhatsApp
para saber de nós quando o caos acontece. Quando a gente demora. Quando o jornal
da TV relata o impensável. Quando todo mundo vê que talvez fosse menos perigoso
trabalhar no MSF do que no Rio de Janeiro.

Somos nós que dividimos as madrugadas insones com a polícia mal equipada,
os colegas da enfermagem mal pagos e extenuados, o pessoal da limpeza não pago.
Todos cansados, terrivelmente cansados. Todos tristes, terrivelmente tristes.
Somos nós que nos tornamos íntimos sem sermos amigos, porque, afinal, quem pode
não ser íntimo sem ter nada, exceto riscos e desafios desproporcionais?

Sim, somos nós que temos medo. E continuamos mesmo assim. Sem saber até
quando, sem saber a que preço.

Somos nós que estamos nas histórias dignas de Tarantino nos plantões da cidade partida. Somos
nós.

Ameaçados pelos pacientes, sejam bandidos que usam a violência como
instrumento, desesperançados que não creem em mais nada ou desesperados que
temem perder o que não pode ser substituído. Nós. Assediados por gente que manda
mas não assume nem reconhece. Nós, os médicos.

Nós, presos em barricadas feitas com camas velhas na madrugada do Souza
Aguiar. Nós, que logo depois trincamos os dentes para operar nosso colega
enfermeiro, azarado, dono de uma bala mais do que achada. Nós, que só podemos
ter medo depois. Chorar depois. Tranquilizar o pessoal de casa depois.

Nós, na cidade olímpica, na cidade partida, na cidade em desordem, na
cidade que não respeita os seus. Cidade Maravilha, território da beleza e do
caos.

Até quando?”

DIRETORIA CIPERJ?