Cotidiano

Assessor preso na Operação Calicute operava como laranja para Cabral

2016 909290563-2016 908457965-2014 703660971-2013 651515718-2013 636278185-2.jpgRIO – Quando o então governador Sérgio Cabral rompeu a amizade com o empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, em 2012, delegou a um assessor de confiança a missão de devolver um anel de R$ 800 mil, presente de aniversário do empreiteiro à então primeira-dama, Adriana Ancelmo, no ano anterior, como revelado pelo GLOBO. Este assessor, Paulo Fernando Malhagães Pinto Gonçalves, aparece agora na lista dos presos pela Operação Calicute. As investigações mostraram que Paulo operava como laranja para Cabral, aparecendo como proprietário de bens que pertenceriam na realidade ao ex-governador.

Assessor de gabinete de Cabral no governo, Paulo Fernando era um dos mais próximos colaboradores do ex-governador. Em 2011, quando Cabral se separou de Adriana Ancelmo, passou uma temporada no apartamento do assessor na Avenida Vieira Souto, em Ipanema. Também saiu em nome de Paulo Fernando uma Ford Ranger 2007, placa KXG 0628, que Fernando Cavendish deu de presente para Cabral em março de 2007, poucos meses após da posse do governador.

A força-tarefa da Lava Jato suspeita que a lancha “Manhatan Rio”, antiga “Queen Helen”, comprada por R$ 5 milhões, em setembro de 2007, pela MPG Participações Ltda, de Paulo Fernando, teria Cabral como verdadeiro dono. A lancha está registrada no condomínio Portobello Resort, em Mangaratiba, onde a família Cabral tem casa. Fontes do condomínio informaram que, por causa do tamanho da embarcação, a administração do condomínio teve de mudar a ponte que dá acesso a uma parte do Portobello chamada “ilha”, transformando-a em ponte levadiça.

As investigações também encontraram um helicóptero, prefixo PP-MOE, registrado em nome da MPG Participações. A aeronave foi vendida em setembro passado para uma empresa situada em Dalaware, EUA.

Paulo Fernando, durante a campanha de Luiz Fernando Pezão ao governo do estado em 2014, promoveu pelo menos dois jantares de adesão à candidatura. É conhecido por patrocinar festas baladas e circular com artistas de TV.

No despacho do juiz Marcelo Bretas, determinando a prisão dos envolvidos, entre as quais Cabral e Paulo Fernando, o magistrado cita que, desde o afastamento de Cabral do cenário político, Paulo Fernando “vem se dedicando à atuação empresarial em vários e distintos ramos, sendo também sócio de muitas empresas”.

Uma das empresas fica oficialmente no escritório 501 da Avenida Ataulfo de Paiva, 1351, Leblon, imóvel alugado desde junho de 2014 por R$ 42 mil. ?De acordo com as evidências que foram trazidas aos autos, sobretudo a partir de decisão judicial de afastamento de sigilos, aparentemente o referido escritório alugado não seria, de fato, utilizado por quem se apresenta como locatário (Paulo Fernando), mas sim pelo investigado Sérgio Cabral, ou mais especificamente por sua empresa Objetiva Gestão e Comunicação Estratégica”, diz o despacho de Bretas.

De acordo com as investigações, e-mails arrecadados na caixa de correio eletrônico de Luciana Rodrigues, secretária particular de Cabral, ao responder ao questionamento do contador da Objetiva sobre eventuais recibos de pagamento de aluguéis para serem contabilizados, ela responde: ?A sala foi cedida gratuitamente para funcionamento da Objetiva?.

Os investigadores concluiram que a ?cessão gratuita? feita pelo investigado Paulo Fernando em benefício do também investigado Sérgio Cabral representaria uma vantagem financeira de mais de R$ 1 milhão em 24 meses. E não é apenas isso: Desde que Luciana Rodrigues deixou seu cargo de assessora de Sérgio Cabral, era a mesma formalmente contratada pela empresa NAU Consultoria de Arte Ltda, do mesmo Paulo Fernando, informa o despacho de Bretas.