Cotidiano

As histórias dos personagens que construíram o Brasil

Retratos. Afonso Ribeiro.jpgRIO – O primeiro nome do livro ?101 brasileiros que fizeram história? (Estação Brasil), de Jorge Caldeira, não é Pedro Álvares Cabral nem Pero Vaz de Caminha. É Afonso Ribeiro, o degredado que acompanhou Caminha na primeira visita à terra recém-descoberta e que é obrigado a ficar. Ribeiro vive entre os índios até 1502, quando é recolhido pela esquadra pilotada por Américo Vespúcio. O navegador transforma seus relatos em parte do livro ?Mundus Novus?, ?o segundo best-seller da história da humanidade, depois da Bíblia?, como escreve Caldeira.

Com 40 anos dedicados à história brasileira, o jornalista fez questão de escolher personagens significativos da construção do Brasil para a sua lista, mesmo que esquecidos. O livro será lançado na próxima sexta-feira (dia 1º), durante a Flip, na Livraria das Marés, em Paraty, às 18h. A obra marca também a estreia da coleção ?Brasil 101?, da Estação Brasil, que tem curadoria do escritor e jornalista Eduardo Bueno.

? Todos os 101 personagens já habitavam em mim há muito tempo, na minha imaginação do que seja esse país ? diz Caldeira. ? O Brasil não é trivial. Como dizia Tom Jobim, é um país para profissionais.

A lista contempla gente de norte a sul, homens e mulheres de trajetórias surpreendentes. É o caso de Francisco Félix de Souza, o Chachá. Nascido em Salvador em 1754, filho de português com uma mestiça de origem indígena, ele embarca para a área da Costa da Mina, na África, onde os mercadores baianos tinham um posto exclusivo para o negócio de escravos, a fortaleza de Ajudá. Félix de Souza não retorna ao Brasil e começa a trabalhar na fortaleza como comerciante. Ele ascende socialmente e se casa com a filha de um rei. Após um golpe de Estado, ganha o título de Chachá, o controle político de Ajudá e o monopólio do comércio de escravos na região do Benim. Vive por lá até morrer, aos 94 anos.

Eufrásia_museu_casa_herab_64_edit.jpgOutra personagem marcante é Eufrásia Teixeira Leite. Ela aprendeu com o pai matemática financeira e princípios básicos do comércio. Eufrásia fica órfã em 1872, aos 22 anos, e junto com a irmã decide liquidar todos os negócios pendentes e partir para Paris, sob os protestos da família. No navio, a jovem conhece Joaquim Nabuco, que acabara de vender um engenho herdado da madrinha. Eufrásia e Nabuco se apaixonam, mas não se entendem sobre o casamento. A relação termina em 1887 quando ela, uma exímia investidora, se oferece para sustentar a carreira do amado. Sozinha, Eufrásia vive reclusa, e rica, até a sua morte no Rio de Janeiro, em 1928.

Caldeira conta que todos eles frequentaram, em algum momento, os seus livros anteriores. O jornalista foi o responsável por reabilitar o Barão de Mauá com sua biografia ?Mauá ? Empresário do Império?:

? A ideia da lista é ótima porque mostra como o Brasil é diverso. Num certo sentido, todos esses personagens contam a nossa história. O Brasil é a soma deles.