Cotidiano

Artigo: Sem grandes esperanças, torço pelos animais, por Cora Rónai

No fim do último debate entre os candidatos, muita gente criticou a pergunta que
Marcelo Crivella fez a Marcelo Freixo a respeito dos animais abandonados. Pois
gostei da pergunta, assim como gostei da resposta do Freixo, que propôs unidades
de castração móveis, parceria com a Suipa e com os protetores, e a utilização do
zoológico como centro de estudos. Cuidar dos animais não é algo menor, e querer
saber o que um candidato a prefeito pretende fazer a respeito deles não tem nada
de ridículo. Administrar uma cidade é, justamente, cuidar de detalhes assim.

Crivella elogiou a resposta, e
acrescentou que propunha a implantação de chips nos animais para evitar o
abandono, uma proposta boa se vivêssemos num cantão suíço, mas impraticável numa
cidade do tamanho do Rio. De qualquer forma, gostaria que ele continuasse se
preocupando com os bichos agora que foi eleito, e que ponha em prática as
medidas que elogiou. A situação dos animais e de seus protetores no Rio, que
sempre foi ruim, piorou sensivelmente com a crise.

Sei que esse está longe de ser o
maior problema do Rio mas, infelizmente, não tenho grandes esperanças em relação
aos próximos quatro anos ? nem em relação aos animais, nem em relação ao resto.
Já não tinha muitas quando foram anunciados os nomes para o primeiro turno, mas
elas foram a zero quando as urnas revelaram quem disputaria o segundo turno.
Cultivar esperanças é muito difícil quando temos tantas objeções aos candidatos,
e mais ainda quando o pior, ou o que consideramos pior, vence. Mas como é
impossível viver sem esperanças, tenho uma, de estimação, que tiro do bolso,
acaricio e lustro sempre que um político em quem não confio assume o poder:
tomara que ele me surpreenda e que, daqui a quatro anos, eu precise reconhecer
que estava errada.

Dessa vez está tão feia a coisa
que, olhando para a minha esperança tão pálida, desejo apenas que o novo
prefeito não seja pior do que imagino que será.

É muito pouco para uma cidade tão
complicada e desigual como a nossa, muito pouco para uma cidade tão insegura e
tão cheia de problemas; mas é o que temos para hoje.