Cotidiano

Artigo: Os EUA ainda continuam na liderança?

Trump Transition TeamWASHINGTON ? Para os Estados Unidos e a Europa, chegou a hora de fazer um acerto de contas: o Ocidente como o conhecemos está próximo de chegar ao fim. Os Estados Unidos acabaram de eleger como presidente um homem que não apenas se gaba de apalpar mulheres e enganar parceiros de negócios, mas que também publicamente não gosta de tradicionais aliados americanos ? e os europeus acima de tudo.

Não se baseie nas minhas palavras. Ouça o que ele vem dizendo há muitos anos. Em 2000, no livro ?A América que merecemos?, Trump escreveu que os ?EUA não têm interesse vital em escolher entre facções armadas cuja hostilidade remonta a séculos. Seus conflitos não valem vidas americanas. Afastar-se da Europa poderia anualmente economizar milhões de dólares deste país. O custo de manter tropas da Otan na Europa é enorme. E estes são certamente investimentos que podem ser mais bem utilizados?.

Ao longo da campanha eleitoral, repetiu constantemente essa visão, mesmo que tenha mudado de opinião em relação a quase todo o restante. Mas em relação à Otan ? e sobre a Rússia ? Trump não muda nunca. Em março, descreveu a organização como obsoleta. Ao mesmo tempo, tem elogiado ditadores mundiais, Vladimir Putin principalmente. Em 2014, enalteceu a invasão russa à Ucrânia. Trump não fala sobre o declínio da economia russa ou do seu feroz autoritarismo, talvez porque não sabia sobre eles ou porque não se importe. Sua campanha recebeu assistência declarada da Rússia.

Não podemos presumir que avanços militares russos na Ucrânia e nos países bálticos serão empurrados para trás por uma aliança de países com posições semelhantes. Sob o comando do presidente Trump, não podemos presumir que os Estados Unidos continuem na liderança dos países livres ? ou na liderança de qualquer coisa. O protecionismo, e não o livre comércio, acabou de ganhar esta eleição, e isso terá consequências. O livre comércio teve todos os tipos de consequências, mas uma de suas vantagens é que mantém países política e economicamente conectados. Muros, sejam físicos ou metafóricos, serão construídos.

Nada disso acontecerá rapidamente. Levará tempo para as consequências da mudança no sistema político internacional por vir se desdobrarem. A queda inicial do mercado de ações se inverteu. Mas a mudança está chegando, como populistas têm dito em tantos países. Nos próximos dias e semanas, os americanos estarão focados nas consequências desta eleição em casa, particularmente agora que o Partido Republicano de Trump domina a Câmara e o Senado e irá dominar a Suprema Corte. É importante abrir os olhos para as consequências ao restante do mundo também.