Cotidiano

?Arranjo esdrúxulo?, diz Cristovam Buarque sobre fusão de ministérios

201604281505186891.jpg

RIO ? A fusão dos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações foi duramente criticada pelo senador Cristovam Buarque (PPS-DF), conhecido por suas posições em favor da educação e do desenvolvimento científico. Para o parlamentar, a medida adotada pelo presidente interino, Michel Temer, é um ?arranjo esdrúxulo, que não vai dar bons resultados? e uma forma de ?aumentar o cacife? do novo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD).

? Eu sou absolutamente desfavorável a essa mudança. Considero um erro. Eu já defendi a junção do Ministério da Ciência e Tecnologia com o Ensino Superior, mas com comunicações me pareceu um arranjo esdrúxulo, que não vai dar bons resultados ? criticou Buarque. ? Eu cheguei a fazer essa sugestão a um dos senadores que é ligado ao Temer. Mas em vez de trazer a universidade, trouxe as rádios e televisões. Acho que foi uma decisão política para fortalecer o Kassab. Não vejo onde está a preocupação e lógica para fortalecer a ciência e a tecnologia.

A medida foi criticada por entidades ligadas à comunidade científica, que apontaram a incompatibilidade das duas agendas e a sinalização de que o setor de pesquisas ficaria em segundo plano na nova gestão, visão compartilhada pelo senador:

? Basta dizer o seguinte: o ministro vai ficar voltado grande parte do tempo para as comunicações, que o ocupará muito mais. Então, os nossos cientistas e institutos de pesquisa vão ficar relegados. Nenhuma dúvida ? disse. ? Mesmo se colocar dois bons secretários, um para ciência e tecnologia e outro, para comunicações. Muito bem, o secretário de ciência e tecnologia vai ficar subordinado a uma pessoa que não é da área. E eu seria contra a junção mesmo que o ministro fosse um cientista. Mas no caso, nem cientista é. É um político.

Segundo Buarque, a reforma ministerial que alterou áreas sensíveis, como a comunidade científica e a cultura, pode gerar uma onda de insatisfação e causar problemas ao governo interino. Questionado se isso poderia alterar o posicionamento de parlamentares no julgamento do processo de impeachment, o senador disse não saber.

? É uma boa pergunta. Se a gente ficar restrito à razão do impeachment, que é o crime de responsabilidade, não deve influir, mas eu não sei ? disse o senador. ? Eu até li uma matéria sobre os arrependidos de votarem pela aceitação do processo, que me incluía. Eu não considero um arrependimento, mas uma questão de ser crítico.