Cotidiano

Arminio Fraga compara Brasil a paciente que está na UTI

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Arminio Fraga

BRASÍLIA – O ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, comparou, nesta quarta-feira, o Brasil a um paciente politraumatizado que está na UTI. Ao participar de seminário no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), ele afirmou que o reequilíbrio das contas públicas, com a aprovação de um teto para os gastos públicos e de uma reforma da Previdência, podem ajudar o paciente a ?voltar a respirar?.
– O paciente politraumatizado saiu do coma e está na UTI. Mas está melhorando. Com uma ou duas votações ele sai da UTI e começa a respirar – disse Fraga.
Sem mencionar diretamente a prisão do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, Fraga disse que tem preocupação com o efeito que a operação Lava-Jato pode ter sobre a classe política e sobre o andamento da agenda econômica no Congresso. E disse que os parlamentares precisam continuar a dar prioridade à tramitação da proposta de emenda constitucional (PEC) 241, que fixa um teto para os gastos.
– Eu tenho um pouco de medo disso (a realização de reformas econômicas) acontecendo no meio da operação Lava-Jato, que agora chega à classe política. Talvez ela já tenha ocorrido em 80% no ambiente empresarial. Mas do lado político isso tem consequências difíceis de prever. Mas o Congresso tem que manter a missão de aprovar as reformas – disse o ex-presidente do BC.
Ele defendeu a PEC afirmando que os gastos públicos estão sendo congelados num patamar elevado. A emenda prevê que, por 20 anos, as despesas do governo só podem crescer com base na inflação dos 12 meses anteriores. No entanto, Fraga destacou que ela não será suficiente para resolver o problema fiscal brasileiro sem reformas:
– Os gastos estão sendo congelados num nível razoavelmente elevado, mas a tendência ainda é endógena ao sistema e requer a aprovação de outra reforma, que é a da Previdência. Ela é delicada do ponto de vista político, mas essencial. É impossível respeitar de maneira racional ou de qualquer maneira um teto (para os gastos) sem essa reforma.
Fraga elogiou ainda a decisão do Banco Central de retomar uma agenda de redução do spread bancário (diferencial entre o que o banco paga para captar recursos e quanto ele cobra dos clientes):
– Vi o Banco Central anunciando que vai retomar o projeto de redução do spread bancário. Ele é muito grande no Brasil. Na minha gestão (à frente do BC), iniciamos um projeto e o spread caiu de 52 para 30 pontos. Essa é uma agenda do bem.
O secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, que também participou do seminário, afirmou que a PEC não representa ?um corte draconiano? nas despesas. Para ele, a emenda representa um ajuste gradual que fará com que os gastos caiam num patamar de 0,5 ponto percentual em relação ao PIB por ano. Segundo ele, se o Congresso aprovar a PEC e uma reforma da Previdência, a economia vai se recuperar.