Cotidiano

Após vender casa para morar nos EUA, família é impedida de voar

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CAIRO – Fuad Sharef e sua família esperaram dois anos por um visto para morar nos Estados Unidos, vendendo sua casa e deixando trabalhos e escolas no Iraque para finalmente embarcar para uma nova vida em continente americano, neste sábado. Links Trump migração

Mas Sharef, sua esposa e três filhos foram impedidos de embarcar em um voo de conexão do Cairo para Nova York, nos Estados Unidos. Eles foram vítimas quase instantâneas da ordem executiva do presidente americano, Donald Trump, que baniu a entrada, por 90 dias, de cidadãos de sete países com maioria muçulmana (Iraque, Síria, Irã, Sudão, Líbia, Somália e Iêmen).

A família teve os passaportes confiscados e passou a madrugada detida no aeroporto em Cairo. Neste domingo, os cinco foram forçados a voar de volta para Erbil, cidade no Norte do Iraque.

? Fomos tratados como traficantes de drogas, escoltados por oficiais de deportação ? contou Sharef à Reuters do aeroporto do Cairo. ? Eu me sinto muito culpado diante da minha esposa e dos meus filhos. Sinto que sou a razão por trás do infortúnio deles.

A nova política migratória teve efeito imediatamente, levando aflição e confusão a viajantes em trânsito com passaporte destes sete países. Sharef e sua família foram umas das primeiras vítimas da ordem executiva.

Sharef conta que, antes de deixar o Iraque, trabalhava para uma empresa farmacêutica. No entanto, desde 2003, ele vem colaborando com projetos financiados por organizações americanas, como a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).

FUGINDO DO ESTADO ISLÂMICO

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A família iniciou uma aplicação para obter um visto em setembro de 2014, em meio à deterioração das condições de segurança do Iraque ? com insurgentes do Estado Islâmico dominando partes do país e matando em assassinatos brutais.

O trabalho de Sharef o tornou particularmente vulnerável ao ataque de militantes, que os veem como um traidor.

? Eu fiz a solicitação para a imigração por diversas razões. Primeiro, eu trabalhava com americanos, o que me coloca em risco diantes de organizações terroristas. Segundo, eu fiquei interessado no programa de Vistos para Imigração Especial (SIV, na sigla em inglês), além dos meus filhos terem se interessado em continuar sua educação nos Estados Unidos ? contou.

O SIV é um programa criado por parlamentares americanos e visa dar auxílio a iraquianos que arriscaram suas vidas tentando ajudar americanos depois da invasão ao país árabe em 2003.

Mona Fetouh, uma colega de Sharef em um projeto de 2004 da Usaid, contou que forneceu ao iraquiano uma recomendação para a sua aplicação no programa.

? O processo no SIV durou dois anos e eles finalmente conseguiram os vistos, indo viajar nesta semana. Foi o momento errado. Eles venderam a casa deles, suas posses, e deixaram suas escolas e trabalhos em preparação para esta mudança. Eles estão devastados ? contou Fetouh.

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Originalmente, a família havia planejado voar para os Estados Unidos no dia 1 de fevereiro mas, após terem notícias de que o governo Trump iria restringir a política migratória do país, resolveram adiantar o voo para este sábado. Mas não deu tempo.

Sharef, pai de duas meninas e um menino, diz que a família ainda está em choque e não sabe quais próximos passos a tomar. Temporariamente, eles ficarão na casa do irmão de Sharef em Erbil.

? Eu não sei. Talvez eu envie um email para a embaixada americana em Bagdá pedindo uma explicação ? apontou.

Questionado se temia por sua vida retornando ao seu país de origem, ele apontou que os Estado Islâmico vem perdendo batalhas para o exército no Norte do Iraque ? mas ainda se sente ameaçado:

? Talvez esteja menos perigoso por conta da relativa regressão na influência do Estado Islâmico em Mossul, mas durante meus anos de trabalho, a minha vida e as da minha família estiveram constantemente em perigo. Não há garantias.