Cotidiano

Após ser alvo de protestos, Moro diz que ?decide sobre evidências?

NOVA YORK ? Em um evento marcado por protestos, o juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba responsável por julgar os processos da Lava-Jato, aproveitou sua palestra na Columbia University, em Nova York, nesta segunda-feira, para reafirmar que suas decisões são imparciais. Ele afirmou que julga com base no que os investigadores e promotores apresentam, baseado em evidências e seguindo a lei e que “ninguém é preso com base em suas opiniões”:

? Eu tive uma grande oportunidade no ano passado de conversar com pessoas da Operação Mãos Limpas (na Itália), e eles me disseram que, se a gente quer parar o conflito entre a Justiça criminal e a política, os políticos precisam parar de cometer crimes ? disse ele, que apesar dos protestos, em muitos momentos foi aplaudido em pé. ? Se os promotores apresentam evidências, eu tenho que decidir sobre as evidências, e as consequências políticas ocorrem fora dos tribunais.

Ao menos três manifestantes foram expulsos da biblioteca da Columbia University, onde a palestra aconteceu. Os manifestantes se levantaram das cadeiras e, com cartazes e aos gritos contra o juiz, acusaram-o de ser parcial em suas decisões. Muitos gritavam que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe no Brasil. Por causa do protesto, o início da palestra atrasou cerca de 10 minutos.

Moro afirmou ainda que “descobrir e revelar os casos de corrupção não é parte do problema, é parte da cura”, e que agora políticos e poderosos vão presos, assim como grandes empresários. Moro ainda lembrou que a luta contra a corrupção levou milhões de pessoas em protestos pacíficos pelas ruas do Brasil e que o sistema endêmico de corrupção do Brasil “não é uma doença tropical” e que pode ser enfrentada.

Ele detalhou para a plateia um histórico da Lava-Jato, afirmou que a partir dela alguns avanços já ocorreram ? citando a proibição de doações eleitorais de empresas e a norma que estabelece que um réu condenado pela segunda instância já pode ser preso ? e tentou mostrar otimismo:

? O Brasil tem uma história bonita de superação, tivemos a ditadura militar, a hiperinflação, enfrentamos a pobreza e acredito que estamos fazendo avanços concretos na luta contra a corrupção ? disse ele. ? Eu espero que estamos diante de uma grande oportunidade de transformação e que não há desafio que não possa ser feito por nossa democracia

Por outro lado, ele criticou os governos e os parlamentares:

? Até agora o Executivo e o Congresso não deram uma contribuição tão grande para o combate a corrupção ? disse ele, que afirmou que muitas empresas estão mudando suas políticas internas para serem mais éticas e transparentes.

Moro voltou a defender a publicidade total dos casos de corrupção, pois isso inibe eventuais tentativas de acabar com as investigações. E acredita que o país sairá melhor, inclusive na economia, após a Lava-Jato:

? A economia é importante e o país pode se tornar mais competitivo, os custos dos contratos públicos podem ser reduzidos, a luta contra a corrupção pode atrair investidores e gerar mais estabilidade ? disse.

No entanto, Moro disse que, para que isso ocorra, é preciso que os brasileiros “não fechem os olhos” para a corrupção. Ele afirmou que há corrupção em todos os países do mundo, mas que no Brasil todo o sistema estava corrompido, baseado em propinas:

? Talvez investimentos ruins possam ter sido resultado de escolhas ruins, mas também podem ter sido feitas escolhas deliberadas para gerar propina ? disse, citando a Petrobras.

Moro ainda criticou novamente o sistema de foro privilegiado no Brasil, que permite aos presidentes, ministros, deputados e senadores que seus processos corram no Supremo Tribunal Federal:

? O juiz tem que enviar isso para ao Supremo, que tem muitos casos, vocês não podem imaginar quantos aqui dos Estados Unidos ? disse.

Moro segue no evento, onde ocorre um debate sobre economia. Ele afirmou que voltará ao Brasil ainda nesta segunda-feira. Os protestos contra ele, que ocorreram dentro e fora da biblioteca onde ocorre o evento, partiu de alunos, professores e ativistas do Centro Lemann de Columbia University e pela New Scholl contra as decisões do juiz ? que acreditam serem parciais em suas decisões, tendo ajudado ao impeachment de Dilma Rousseff, que consideram um golpe ? e contra a falta de diversidade entre os palestrantes do evento.