Cotidiano

Após massacres, penitenciárias brasileiras vivem clima de tensão

RIO ? As penitenciárias brasileiras vivem clima de tensão após os massacres em presídios do Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte nos priemiros 15 dias do ano. As mortes nas prisões, que já somam mais de 125, expõe a crise no sistema penitenciário no país. Na região metropolitana de Natal, a Polícia Militar fará na manhã desta terça-feira uma nova tentativa para retomar o controle da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, onde 26 presos foram mortos no final de semana devido à guerra entre facções criminosas.

A polícia também deve iniciar as buscas outros corpos de presos que teriam sido colocados nas fossas da unidade. As buscas seriam realizadas nesta segunda-feira, mas, em virtude da movimentação dos presos, que ocuparam o telhado da unidade, elas foram suspensas.

? Até o momento só recolhemos 26 corpos. Estamos verificando uma última hipótese. Há uma suspeita de que eles (as vítimas), estariam em fossas. Amanhã vamos retomar os trabalhos para confirmar ? disse o titular da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), Caio Bezerra.

Na noite de segunda-feira, detentos do Presídio Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, queimaram colchões em protesto por melhora do tratamento aos familiares e aos presos e contra o diretor da unidade Rodrigo Machado. Em vídeo divulgado pelas redes sociais, os detentos pedem a saída do diretor. Com os rostos escondidos por roupas e panos vermelhos, eles ameaçam promover mortes se não tiverem seus pedidos atendidos.

? Vocês arranjaram um problema. Toda sociedade ligada. O ‘baguio’ vai ficar doido. Estamos sujeitos a tudo. A morrer e a matar. Se não tiver resposta da nossa reivindicação vai pegar fogo. Vai virar inferno. Vai morrer gente. É abuso de poder. Nóis é o lixo da sociedade ? diz o depoimento de um dos detentos.

No Rio, mais de 500 agentes penitenciários decidiram entrar em greve a partir de 0h desta terça-feira. Os servidores estão sem o salário de dezembro e o décimo terceiro. De acordo com o presidente do Sindicato do Sistema Penal, Gutemberg de Oliveira, as visitas aos presos foram suspensas. Os servidores cumprirão apenas os sevrviços essenciais como alimentação, emergência médica e alvará de soltura. Os agentes não farão apresentação de presos às Varas Criminais, por exemplo, nem receberão novos detentos.

No Paraná, o Departamento Penitenciário do Estado do Paraná (Depen) suspendeu por tempo indeterminado visitas, sacolas, atividades de ensino e trabalho nas 33 unidades penitenciárias do estado, após a fuga de 28 detentos da Penitenciária Estadual de Piraquara I (PEP I), na Região Metropolitana de Curitiba, no final de semana. Os presos fugiram após abrir um buraco em um dos muros da unidade com uma explosão.

Dois presídios do Pará registraram fugas na segunda-feira. De acordo com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), dois internos conseguiram fugir do Presídio Estadual Metropolitano I (PEMI), que fica em Marituba; e 10 presos escaparam do Centro de Triagem Metropolitana (CTM 4), de Santa Izabel, ambos na Região Metropolitana de Belém.

A grave crise no sistema penitenciário do país será o tema de uma série de reuniões nesta terça-feira em Brasília. Essa agenda de encontros começa agora cedo, a partir das 9h30, quando está prevista reunião do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, com 30 secretários de Justiça, de Segurança e de Administração Penitenciária dos estados. O governo federal tenta fechar com os estados adesão ao Plano Nacional de Segurança Pública, apresentado na semana passada, e prevê repasses de recursos aos estados e construção de penitenciárias.