Cotidiano

Após massacres, governos ainda não têm total controle dos presídios

BOA VISTA, MANAUS E NATAL ? Após os massacres que deixaram mais de cem mortos, os governos estaduais ainda não têm o total controle dos três presídios que foram palcos de violentas matanças desde o início do ano. O governo de Roraima informou na manhã desta segunda-feira que houve registro de tumulto na penitenciária Agrícola de Monte Cristo, ontem à noite. Segundo nota da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), os detentos sacudiram as grades das celas durante protesto.

Na unidade, trinta e três presos foram mortos no dia 6 de janeiro, durante briga entre facções rivais, como revanche do massacre ocorrido no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. No Compaj, 56 detentos foram mortos. A guerra entre facções também deixou outros 26 mortos na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na Grande Natal.

A confusão em Monte Cristo, segundo a secretaria, foi logo controlada pelos agentes de segurança. Não houve registro de fuga ou morte no presídio. A Força Nacional atua no patrulhamento do entorno do presídio, mas o reforço da segurança não evitou a fuga de pelo menos três detentos na semana passada.

Na sexta-feira, detentos tentaram escapar da unidade, mas foram contidos por policiais e agentes penitenciários. Por causa da tentativa de fuga, as visitas que seriam retomadas no domingo continuam suspensas.

No Compaj, foram apreendidos no domingo oito facas, seis ‘estoques’ (armas brancas caseiras), 20 munições e 26 aparelhos celulares durante revista nas celas. Esta é a terceira revista realizada no Compaj, desde o massacre. O banho de sol e as visitas continuam suspensos no presídio.

A polícia do Amazonas apontou, ao menos, sete presos como líderes do massacre. Documentos o Ministério Público Federal (MPF) dizem que estes líderes têm estreita relação com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc. Segundo o MPF, os traficantes brasileiros teriam comprado pistolas, fuzis e submetralhadoras do mesmo fornecedor de armas do grupo de guerrilha colombiano.

O novo comandante da Polícia Militar do Amazonas, coronel David de Souza Brandão, tomou posse no cargo na quinta-feira com o objetivo de ?devolver a sensação de segurança à população?. A Força Nacional reforça o patrulhamento nas ruas de Manaus. Desde o início da rebelião no Compaj, homens da PM foram deslocados para atuar nas muralhas de presídios.

A primeira semana de mutirão carcerário no Amazonas resultou na concessão de liberdade a 432 presos provisórios. Parte deles, segundo o Tribunal de Justiça do estado (TJAM), vai usar tornozeleira eletrônica. A medida é parte das providências tomadas pelo governo estadual para reduzir a massa carcerária que superlota cadeias e reduzir a tensão no sistema prisional.

No Rio Grande do Norte, agentes da Força Nacional descobriram e fecharam nesta segunda-feira mais um túnel na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, cidade da Grande Natal. Este é o terceiro túnel encontrado no presídio desde sábado, quando a polícia entrou e, Alcaçuz para a instalação de um muro de contêineres, com o objetivo de separar presos de duas facções que estão rebelados e se confrontando há nove dias.

Durante a entrada da polícia no presídio no final de semana, os agentes penitenciários aproveitaram e retiraram bandeiras de facções criminosas que estavam hasteadas no local. Peritos do Instituto Técnico de Perícia (Itep) também recolheram partes de corpos de presos assassinados durante briga entre facções rivais no final de semana retrasado. Os policiais entram pontualmente em Alcaçuz desde quinta-feira, quando presos de facções rivais voltaram a se enfrentar com facas e até uma pistola, e a tropa de choque precisou agir usando tiros de borracha para conter os detentos.