Cotidiano

Após encontro com o 'guru' Mujica, Marcelo D2 encerra turnê com o filho nesta sexta

Links Marcelo D2RIO ? De volta ao Rio para encerrar a ?KTT ZOO Tour? ? a primeira turnê em que divide o palco com o filho Stephan (ou Sain, seu codinome artístico) ?, hoje à noite, no Circo Voador, Marcelo D2 ainda está maravilhado com as experiências que viveu no Uruguai, onde esteve na semana passada para se apresentar com o Planet Hemp. Por lá, aproveitou para viver, em um país vizinho, a legalização do consumo e venda da maconha, bandeira que defende desde que criou a banda de rap rock em 1993 e lançou, dois anos depois, o já clássico álbum ?Usuário?.

? O Uruguai é muito foda, né, cara. A evolução que o país teve nos últimos anos… Só o Uruguai para ter um presidente como o Mujica mesmo. Um país amigável, pequeno, cujo povo preza a relação com o próximo, algo que tanto perdemos nestes tempos ? derrete-se o rapper carioca, de 49 anos recém-completados. ? Foi incrível ver como funciona o lance da legalização por lá. É super bem organizado. Conheci o Diego (Garcia, do Clube Canábico El Piso, primeiro legalizado no Uruguai), um cara que já plantava antes de legalizarem. É o maior jardineiro (nome dado a quem cultiva a cannabis) do país e me explicou como tudo funciona. Vivi um sonho de 20 e poucos anos, né? Como eu queria que o Brasil tivesse a coragem de tirar este peso de cima da favela. O país não precisa de mais polícia no morro, precisa de educação e saúde.

D2 explica que o esquema de venda e consumo no Uruguai é parecido com o praticado na Califórnia. Funciona como um clube em que o usuário se associa para poder comprar a erva. Os jardineiros são os responsáveis pelo plantio, pelo cultivo e por dar satisfação ao governo, informando o quanto estão produzindo e o consumo de cada associado.

? A diferença é que na Califórnia você precisa ter uma desculpa médica. Mas até ?estou dormindo mal? serve, pô (risos). No Uruguai, não. Você fala que quer fumar e entra num clube destes. Usar como entretenimento, né, cara. Essa repressão contra o usuário é uma palhaçada, parece que a gente vive em um mundo diferente das leis que nos cercam. E lá pode plantar em casa também, um limite de 40 gramas por mês. Tinham que fazer isso com o álcool também, que é muito pior ? opina.

A maconha é liberada para os uruguaios desde o dia 10 de dezembro de 2013, quando, em votação apertada, o Senado do país aprovou a lei regulamentando o consumo. A proposta foi do governo do então presidente José Mujica, que justificou a iniciativa dizendo que ?o que a gente vem fazendo em matéria de repressão às drogas não deu resultado. Não se pode tentar mudar fazendo sempre a mesma coisa? ? um dos argumentos frequentemente repetidos por D2 e por tantos outros militantes pró-legalização.IMG-20161125-WA0018.jpg

A proximidade de ideias e a idolatria fez com que o rapper tornasse um objetivo de vida conhecer Mujica, realizado no último sábado.

? Ele é uma figura importantíssima da nossa geração por tudo o que passou. Foi um encontro muito forte, quase como encontrar um guru. Deve ser a mesma sensação que as pessoas têm quando encontram o Dalai Lama, sei lá ? compara D2. ? Quando eu cheguei, senti que ele estava meio que me testando, para saber como eu pensava, quem eu era. Mas aí foi quebrando o gelo e confiando em mim. Virou um bate-papo. Quando vi, ele estava fazendo carinho nas minhas costas enquanto conversávamos, uma coisa meio avô. Fui para falar de legalização e acabou sendo o assunto que menos abordamos. Eu tinha muito mais para saber dele.

Um encerramento positivo em um ano para lá de agitado para D2, que conciliou na apertada agenda (?dois dias por semana em casa só?) os shows do Planet Hemp, de sua carreira solo e da turnê ?KTT ZOO Tour?, que idealizou como uma forma de promover rappers do Catete, bairro onde mora desde 1983. Entre eles, Sain, seu filho, que foi apresentado aos fãs em 2003, no hit ?Loadeando? ? aquele que tinha pai e filho dividindo o microfone e cantando ?Eu me desenvolvo e evoluo com meu filho/ Eu me desenvolvo e evoluo com meu pai?. O processo de desenvolvimento e evolução, diz D2, segue o mesmo:

? O Stephan entra no palco comigo desde que tinha 4 anos. Da gravação de ?Loadeando? até aqui, eu vejo que ele tem crescido como artista. Senti que precisávamos fazer alguma coisa juntos quando vi o disco novo dele, que ainda vai sair, pronto. Tá ótimo. Aí, para não ficar só aquela coisa pai e filho, resolvi trazer a molecada do Catete (rappers como Nectar Gang, Luccas Carlos e Akira Presidente, entre outros). Tem uma cena de rap muito forte no bairro. Me arrisco a dizer que é a melhor do Rio e uma das melhores do Brasil. Marcelo D2 – Loadeando

Apesar da correria, D2 já pensa nos próximos projetos. Um deles é um álbum visual ? algo próximo do que Beyoncé fez em ?Lemonade? e Frank Ocean em ?Endless? neste ano ?, ainda em estágio inicial de produção. Mas e o tão falado disco novo do Planet Hemp?

? É muito difícil parar para escrever algo com a cara do Planet porque eu e o Bernardo (BNegão) temos nossas carreiras solo, que tomam muito tempo. Mas vamos tirar uma semana em janeiro para entrar no estúdio e ver o que sai. A ideia é lançar algo no ano que vem, nem que seja um EP ? planeja. ? A gente voltou da viagem falando disso. Provavelmente o estúdio vai ser no Uruguai, porque o bagulho lá é bom pra caralho (risos).