Cotidiano

Após elogiar oposição, Maduro ataca partido de Leopoldo López: 'Terrorista'

VENEZUELA-POLITICS-MADURO-GCJ2VU89E.1.jpgCARACAS – Apesar de ter elogiado a disposição da liderança opositora em dialogar e suspender ações de pressão para derrubar seu governo, o presidente Nicolás Maduro disse que parte de seus rivais na Venezuela é terrorista. Em seu programa semanal de TV, ele arremeteu contra o partido Vontade Popular, do líder opositor preso Leopoldo López.

? Aspiro para que os tribunais ajam diante dos chamados terroristas deste grupo que pretende utilizar a legalidade da Venezuela. Como chefe de Estado, digo que apoiarei todas as deicsões para que esse grupo pague com a justiça. Não tenho medo nem me treme o pulso para aplicar a justiça. Faço um chamado a todos os poderes públicos a atuar frente às ameaças deste grupo terrorista chamado Voluntad Popular ? disse ele, chamando o deputado Freddy Guevara de “covarde que se utiliza da imunidade parlamentar”.

Maduro ? que na noite anterior disse ter ficado contente de ter conhecido a liderança Mesa de Unidade Democrática (MUD), principal coalizão de partidos opositores ? ainda ressaltou a importância do cancelamento de uma marcha opositora ao Palácio de Miraflores que aconteceria na quarta-feira, considerando que ela tentaria matá-lo.

? Quem convocar uma marcha a Miraflores é um criminoso. Se for algum líder, é um criminoso em potência elevada.

Embora o clima de tensão permaneça nas ruas e nos discursos de ambos os lados, os diálogos entre a oposição e o governo na Venezuela, que buscam amenizar a crise política que assola o país, podem estar começando a dar frutos. Na terça-feira, líderes opositores suspenderam a sessão parlamentar na qual pretendiam acusar o governo de rompimento da ordem constitucional e iniciar um processo de destituição de Maduro. Além disso, foi também suspensa a marcha ao palácio. Por sua vez, o governo, na noite anterior, soltou cinco opositores presos nos últimos meses. O deputado chavista Darío Vivas classificou a medida como uma demonstração de que o estado de direito continua vigente no país, e a chanceler Delcy Rodríguez disse que foi um sinal de que o governo está disposto a dialogar. Ainda assim, a MUD afirmou que não pretende recuar de seus planos de combate ao governo.

No domingo, delegados do governo e da MUD chegaram a um acordo para a elaboração de uma agenda para o diálogo diante da grave crise política que abala o país, sob a supervisão do Vaticano e da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Na noite de segunda-feira, foram libertados Carlos Melo, acusado de posse de material explosivo; Andrés Moreno e Marco Trejo, detidos em setembro após produzirem um vídeo para o partido opositor Primeiro Justiça, considerado pelo governo uma incitação à revolta; Coromoto Rodríguez, chefe de segurança do presidente da Assembleia Nacional (AN), Henry Ramos Allup; e Andrés Leon, preso numa manifestação contra o governo em agosto de 2015. maduro

No decorrer da tarde, a ONG Foro Penal Venezuelano revelou que os estudantes Pablo Parada e Jean Carlos Ortiz, detidos em setembro na cidade de Táchira, também foram libertados.

A decisão de adiar a sessão parlamentar gerou boatos de que uma marcha até o Palácio Miraflores, sede do governo, convocada pela oposição para quinta-feira, também seria suspensa. O secretário-geral da MUD, Jesús Torrealba, afirmou ao diário ?El Nacional? que a agenda parlamentar e de atividade nas ruas seria mantida, mas reconheceu que os planos poderiam ser alterados ?dependendo do que o governo fizesse?. Horas mais tarde, Allup confirmou que a manifestação da oposição foi suspensa.

? O Vaticano pediu que as marchas fossem suspensas de ambos os lados, e nós aceitamos por acreditarmos que é sensato evitar choques que coloquem o processo em risco ? afirmou Allup. ? O diálogo prevê concessões recíprocas, mas não significa que desistimos de nossas posições. Estamos sentados à mesa porque, até agora, com choques e confrontos, não obtivemos nada.

Pelo Twitter, o prefeito de El Hatillo, David Smolansky, criticou a decisão, afirmando que o protesto deveria ter sido mantido. O partido Venha Venezuela, liderado pela ex-deputada cassada María Corina Machado, também se manifestou contra o cancelamento, pedindo o que chamou de ?mediadores confiáveis? e a divulgação de um cronograma que inclua eleições presidenciais já.

Embora os avanços dos diálogos tenham levado ao cancelamento da marcha opositora, o mesmo não aconteceu com a manifestação de apoio ao governo, que levou milhares de pessoas aos arredores do Parlamento na tarde de terça-feira.

? É uma resposta à palhaçada que a direita apátrida tenta fazer, violando repetidamente as leis do país ? afirmou o deputado Vivas.

Financiamento do narcotráfico

O presidente Maduro expressou satisfação com os diálogos, mas pode ter outro problema pela frente, envolvendo parentes. Transcrições de conversas entre Efraín Campo, sobrinho da primeira-dama Cilia Flores, e um informante da DEA (agência antidrogas americana), publicadas pelo diário ?Nuevo Herald?, mostram Campo confessando a intenção de realizar envios de cocaína aos EUA, na tentativa de angariar fundos para as eleições parlamentares de 2015, nas quais Cilia concorria.

Campo é acusado, juntamente com Francisco Flores, outro sobrinho de Maduro, de enviar 800kg de cocaína aos EUA. Preso em outubro do ano passado, no Haiti, o sobrinho da primeira-dama negou que a venda de drogas tivesse qualquer ligação com a política venezuelana.

? Eu sei que disse isso, mas na realidade o dinheiro era para mim ? disse Campos, ao ser perguntado por autoridades se podia imaginar o efeito que aquelas declarações teriam sobre a opinião pública.

De acordo com o agente especial Sandalio González, um informante recebeu uma ligação em outubro de um funcionário do governo venezuelano chamado Vladimir Flores, mesmo nome do irmão da primeira-dama. O agente afirmou ainda que Campo e Francisco Flores mantinham conexões com os mais altos escalões do governo, com acesso a aviões e grandes quantidades de drogas.

? Eles indicaram que controlavam o aeroporto, podendo enviar aviões direto da rampa presidencial ? afirmou.