Cotidiano

Após décadas na política, Hillary deixa escapar a chefia da Casa Branca

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WASHINGTON ? A democrata Hillary Clinton sofreu uma histórica derrota nas eleições presidenciais de terça-feira, em que o republicano Donald Trump, com sua campanha polêmica e divisiva, saiu vitorioso. A notícia foi um choque para eleitores democratas de todo o país, que cultivam duras críticas ao discurso agressivo do magnata ? sobretudo para temas como a imigração, o terrorismo e a economia. Nem mesmo o apoio do altamente popular casal presidencial, Barack e Michelle Obama, foi suficiente para garantir a vitória democrata. Agora, resta aos analistas apenas tentar compreender o que levou a ex-secretária de Estado a perder a votação, um resultado que contrariou quase todas as pesquisas dos últimos dias. trumpeleito

Umas das questões mais sublinhadas neste momento é a próxima relação de Hillary com o establishment político nos EUA. Ela é vista no seu país como a continuação da forma de fazer política que já existe hoje; mas o que muitos americanos querem é, justamente, apostar no contrário. É deste lado do espectro político que está Trump, um empresário bilionário nova-iorquino que vendeu a imagem de sucesso para os americanos. Ele prometeu renovar o sistema político com o que chamou de “movimento” e garantiu que não depende de alianças e concessões políticas para governar.

Esta onda de rechaço ao establishment é bastante semelhante à que levou o Reino Unido a votar em junho pela saída da União Europeia (UE), apontas analistas. E, também, foi a mesma tendência que se fez presente quando Bernie Sanders foi escolhido por 22 estados para ser o candidato democrata nas eleições dos EUA ? uma vitória surpreendente para o senador, embora tenha sido superado por Hillary.

Na economia, esperava-se que a postura do presidente Barack Obama nos últimos oito anos ajudasse a candidatura democrata em 2016. No seu governo, o país foi se recuperando da crise financeira e so empregos voltaram a crescer. Mas, infelizmente para Hillary, muitos americanos não se sentiam tão otimistas assim sobre a situação de uma das maiores economias mundiais: os salários estavam estagnados e a desigualdade crescia. No seu discurso de campanha, Trump atribuiu estes problemas a negociações comerciais ruins e à manipulação da economia pelo governo.

Outro grande problema para a democrata, foi a falta de confiança popular na sua candidatura. Emboras os índices de confiabilidade para o seu rival republicano também não fossem altos, ela sofreu um baque neste quesito com uma série de reviravoltas em sua campanha. No meio do ano, a ex-secretária de Estado passou por um constrangimento quando o FBI chamou de irresponsável o uso do seu servidor de email pessoal para trocar emails de trabalho enquanto chefiava o Departamento de Estado. Eleitores reagem a apuração dos votos nos EUA

POUCA CONFIANÇA

Embora ela tenha saído aliviada e sem acusações na deliberação inicial do FBI, a história voltou a assombrar a sua candidatura na reta final da campanha presidencial ? ameaçando a sua já estreita margem nas pesquisas de intenção de voto. O órgão reabriu as investigações para analisar uma nova leva de emails trocados por Hillary, alimentando os ataques de Trump a poucos dias da votação. Depois de nove dias, ficou esclarecido que, mais uma vez, não havia indícios de criminalidade sobre o comportamento da democrata. Mas, a esta altura, a sua imagem de honestidade já tinha sofrido ? embora ela tenha se recuperado levemente nas pesquisas e, na segunda-feira, liderasse com cinco pontos percentuais de vantagem.

Outro episódio que marcou a sua campanha e alimentou os questionamentos de quem duvidava da sua força para ser presidente foi a pneumonia que Hillary teve em setembro. Ela passou mal e deixou mais cedo o evento de homenagem às vítimas dos atentados às Torres Gêmeas, em Nova York, há 15 anos. Imagens do momento em que ela quase desmaiou e mal conseguia se locomover, mesmo com a ajuda dos seus assesores, explodiu na imprensa. Isso contribuiu para as declarações de Trump, que acusava a democrata de não ter a resistência física que o cargo de presidente exige. Teorias conspiracionistas circulavam, enquanto isso, nas redes e muitos diziam que ela nunca tinha se recuperado de um coágulo no cérebro ? apesar dos atestados dos seus médicos, que garantiam que a sua saúde estava em ótimas condições.

As estratégias de campanha de Hillary também já vêm sendo questionadas agora por analistas. Ela se auto promoveu como a única candidata qualificada o suficiente para ocupar a Presidência, depois de uma longa carreira política em que foi senadora, primeira-dama e secretária de Estado, e esta foi a sua mensagem mais forte. Tudo isso em comparação à total falta de experiência política de Trump, um empresário bilionário que nunca ocupou cargos públicos.

O problema, no entanto, é que seus slogans aparentemente não eram fortes o bastante para convencer o público. O “Stronger Together” (Juntos somos mais fortes, em português), seu maior lema de campanha, só realmente ficou conhecido em resposta à retórica divisiva de Trump, e não como uma frase de personalidade para a candidata. E, enquanto Obama fazia comícios para a sua aliada, usou o lema “Hope and change” (Esperança e mudança, em português). A frase também não pegou muito e acabou passando a impressão de ser apenas mais do mesmo.

Trump, por sua vez, conseguiu um slogan que virou praticamente um mantra entre os seus simpatizantes. “Make America Great Again” (Fazer os EUA grandes de novo) virou o símbolo da mudança decisiva na política para quem estava insatisfeito com o governo atual.