Cotidiano

Após concessões, Colômbia e ELN abrem oficialmente diálogos de paz

ECUADOR-COLOMBIA-ELN-PEACE-TALKS-GCV33VIPU.1.jpgBOGOTÁ – O governo da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional (ELN), última guerrilha atuante no país, deram início nesta terça-feira a diálogos de paz para pôr fim ao conflito mais longo e sangrento das Américas.

Delegados do governo de Juan Manuel Santos e do ELN se reuniram na mesa de negociações na Fazenda Cashapamba, propriedade jesuíta a 30 km de Quito, no Equador.

? A fase pública de conversações nos permitirá alcançar a paz completa ? afirmou há alguns dias o presidente Juan Manuel Santos, Nobel da Paz por assinar um histórico acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), principal e mais antigo grupo insurgente do país. Farc

“Muito bom dia para o mundo e para a Colômbia, um grande amanhecer latino-americano pleno de esperança, convicção, alegria e paz”, escreveu nesta terça-feira no Twitter o ELN, que pegou em armas em 1964.

Em uma cerimônia de uma hora e meia, os principais negociadores do governo, Juan Camilo Restrepo, e da guerrilha, Pablo Beltrán, abriram o processo de paz diante dos representantes dos países mediadores (Equador, Brasil, Chile, Cuba, Noruega e Venezuela), 150 convidados e quase 60 meios de comunicação nacionais e estrangeiros.

DISCUSSÕES NA QUARTA-FEIRA

As discussões começarão na quarta-feira a portas fechadas, segundo fontes da chancelaria do Equador, onde serão realizadas a primeira e a última rodada de negociações. O restante está previsto nos outros países avalistas.

O processo de paz com o ELN “se anuncia difícil” e diferente ao realizado durante quatro anos em Cuba com as Farc, informou à AFP o cientista político Frédéric Massé.

? O ELN tem reivindicações um pouco mais fundamentalistas que as Farc, quer mudanças muito mais profundas ? disse Massé, professor da Universidade Externado de Bogotá. ? Não se apresenta como um representante do povo, mas como um mediador. Para o ELN, é a sociedade que deve negociar.”

A “participação da sociedade civil na construção da paz” é precisamente um dos seis pontos da agenda, que também inclui os de “democracia para a paz”, “transformações para a paz”, “vítimas”, “fim do conflito armado” e “implementação”.

Desde o sábado em Bogotá e desde a terça-feira no centro de Quito, organizações sociais se reúnem na chamada Mesa Social para a Paz para apoiar o diálogo e dar ideias.

No entanto, segundo uma pesquisa divulgada nesta terça-feira pelo jornal El Tiempo e a W Radio, 61,2% dos consultados “não acreditam” nas intenções do ELN de alcançar um acordo de paz.

? Um dos pontos mais difíceis será o das transformações para a paz, não porque o ELN esteja pedindo uma coisa maximalista, mas porque um setor do governo continua pensando que a paz é igual ao desarmamento dos guerrilheiros sem fazer nenhum tipo de transformação social ? explicou Víctor de Currea, autor de vários livros sobre o ELN.

Com os diálogos com o ELN, a Colômbia, que implementa o pacto assinado com as Farc em novembro, busca superar uma conflagração interna que envolveu, além de guerrilhas, paramilitares e forças do Estado, deixando 260 mil mortos, 60 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.

“Quero crer que nesta oportunidade, o ELN tem a decisão de abandonar a violência. Por nossos filhos, tomara que seja assim”, tuitou o ministro do Interior colombiano, Juan Fernando Cristo, cujo pai foi assassinado pelo ELN em 1997.

A mesa devia ter sido instalada em outubro, mas foi adiada pela exigência de Santos de que fosse libertado um ex-congressista do ELN, mantido refém desde abril, e da guerrilha de que o governo indultasse dois rebeldes presos e nomeasse outros dois facilitadores de paz.

A entrega do militar Fredy Moreno Mahecha, que o ELN havia capturado em 24 de janeiro no nordeste da Colômbia, reforçou a confiança no processo. “Gera um bom ambiente”, declarou à AFP, em Quito, o senador de esquerda Iván Cepeda, facilitador dos diálogos com as Farc.

Sem isso, “a mesa teria começado já com questionamentos sérios”, explicou Kyle Johnson, do International Crisis Group.