Cotidiano

Após Brexit, Nissan pede garantias para continuar a investir no Reino Unido

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PARIS/LONDRES – A Nissan quer do Reino Unido uma garantia de compensação por eventuais barreiras fiscais decorrentes da sua decisão de deixar a União Europeia (UE) ou a montadora japonesa poderá acabar com potenciais novos investimentos na maior fábrica de automóveis do país, disse Carlos Ghosn, CEO da empresa, nesta quinta-feira.

Os comentários de Ghosn evidenciam uma preocupação crescente entre os fabricantes de automóveis globais com o fato de que a Grã-Bretanha poderia estar caminhando para um chamado ?Hard Brexit (Brexit difícil, em tradução livre)”, que iria deixá-los pagar tarifas de exportação de carros montados no Reino Unido para os mercados da união Europeia.

A Nissan, que fabrica cerca de um terço da produção total de automóveis da Grã-Bretanha na sua fábrica de Sunderland, nordeste da Inglaterra, deve decidir no próximo ano sobre onde construir o seu próximo veículo utilitário esportivo, o Qashqai.

? Se eu precisar fazer um investimento nos próximos meses e não puder esperar até o final do Brexit, então eu tenho que fazer um acordo com o governo do Reino Unido ? Ghosn disse a repórteres no Salão do Automóvel de Paris.

? Você pode ter compromissos de compensação no caso de você ter algo negativo. Se existem barreiras fiscais sendo estabelecidas em carros, você tem que ter um compromisso com as montadoras que exportam para a Europa de que existe algum tipo de compensação ? completou.

O ultimato de Ghosn dá conta das preocupações de seus colegas da japonesa Toyota, que diziam que a imposição de obrigações surgidas com o Brexit tornaria o gerenciamento de sua fábrica inglesa ?muito, muito díficil?.

Cerca de 814 mil pessoas no reino Unido dependem da indústria de automóvel, predominantemente de propriedade estrangeira, para ter postos de trabalho no paí, de acordo com a Sociedade de Fabricantes e Comerciantes.

A votação do Brexit, no dia 23 de junho, pegou muitos investidores e executivos de surpresa, provocando a mais profunda turbulência política e financeira na Grã-Bretanha desde a Segunda Guerra Mundial e a maior queda da história do valór diário da libra em relação ao dólar.

O governo da primeira-ministra Theresa May tentou tranquilizar os principais fabricantes dizendo que o Reino Unido está aberto à negociações e vai levar em conta as opiniões deles durante as negociações do país com a Uniaão Europeira sobre as novas relações comerciais.

? O governo britânico está falando com todos os investidores no Reino Unido e dizendo: ?OK, quais são as suas preocupações? Que tipo de problemas você tem? O que faria você ficar?? E nós temos sido muito claros ? contou Ghosn ? Eles vão levar isso em consideração, construir uma política, e em função desta política, vamos tomar uma decisão.

“MUITO, MUITO DIFÍCIL”

O Reino Unido deve começar as conversas formais sobre o divórcio da UE no início do próximo ano, com as negociações previstas para durar dois anos. Não está claro se ele terá acesso completo aos mercados da UE quando sai.

O governo britânico diz que fará o melhor acordo possível, mas algumas empresas, especialmente aquelas que exportam a maior parte de seus produtos finais para o continente, estão preocupados de terem de pagar tarifas na venda de bens para os mercados da UE, depois da saída definitiva da Grã Bretanha.

O vice-presidente executivo da Toyota, Didier Leroy, disse à Reuters na quinta-feira que seria difícil para a sua fábrica no Reino Unido, caso o país não consiga alcançar um acordo de livre comércio sem restrições com as nações europeias parceiras.

? O desafio para todos nós no Reino Unido é se manter competitivo, porque 85% da nossa produção da fábrica no país é exportada para a Europa continental”, disse Leroy ? Se 85% tiver que pagar taxas comerciais será muito, muito difícil, mas queremos continuar comprometidos com o negócios do Reino Unido e nossa fábrica lá ? disse ele.

O CEO da Skoda, Bernhard Maier, disse que era importante para a Grã-Bretanha clarificar tudo o mais rápido possível.

? Para nós, seria muito bom que isso não fosse um suspense, e sim se houvesse decisões concretas com as quais pudéssemos realmente nos ajustar”, disse ele à Reuters.

O Japão publicou este mês uma lista de pedidos para O Reimo Unidos e para a UE sobre o Brexit, incluindo a manutenção do comércio livre de impostos corrente entre a Grã-Bretanha e a prevenção de qualquer encargo de desembaraço aduaneiro adicional sobre o comércio.