Cotidiano

Apartamento que motivou discordância entre Calero e Geddel é avaliado em R$ 2,5 milhões

RIO ? Muito antes de ganhar o noticiário nacional por ser apontado como um espécie de pivô inanimado da demissão de Calero do Ministério da Cultura, o empreendimento imobiliário La Vue já era motivo de polêmica em Salvador, na Bahia. Com cada apartamento avaliado em R$ 2,5 milhões em 2014, o projeto, previsto para ter 30 andares e 107 metros de altura, com vista privilegiada para a Baía de Todos os Santos, foi criticado por entidades locais.

Em agosto de 2015, a Associação de Amigos e Moradores da Barra dizia temer “danos à paisagem urbanística do local e possíveis agressões aos imóveis tombados na região”. O terreno fica ao lado de locais como o Cemitério dos Ingleses, a Igreja de Santo Antônio da Barra e o Forte de São Diogo, e mesmo os prédios residenciais do seu entorno não ultrapassam os dez andares. “Um prédio tão alto como esse vai atrair outros empreendimentos muito altos para a região. Assim, vai se perdendo a cara do bairro”, reclamou a presidente da Amabarra, Regina Serra, ao jornal “A Tarde”, no ano passado.

Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento Bahia (IAB-BA), Solange Araújo, também se disse contra e afirmou que “estranhava” que a área de proteção ambiental da região não contemplasse justamente o terreno onde a construtora Cosbat pretende erguer o La Vue.

Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, Calero acusou o ministro de Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, de pressioná-lo para conseguir, junto ao Iphan nacional, a liberação para a construção do prédio, que já havia sido liberada pelo órgão em âmbito estadual. Segundo Calero, Geddel verbalizou ser dono de um apartamento no prédio e que estaria sendo prejudicado pelo embargo da obra.

“Ele disse: ‘Então você me fala, Marcelo, se o assunto está equacionado ou não. Não quero ser surpreendido com uma decisão e ter que pedir a cabeça da presidente do Iphan. Se for o caso eu falo até com o presidente da República'”, descreveu Calero, que afirma que a decisão do Iphan nacional, de autorizar a construção de até 13 andares apenas, foi puramente “técnica”.

O La Vue foi projetado para ter 24 apartamentos, um por andar, de 259m² cada ? a cobertura tendo 450m². Cada unidade teria quatro vagas de garagem, além de depósito, e vagas para visitantes. Entre os benefícios para os moradores, estão previstos piscina com raia e deck molhado, espaço gourmet, fitness, spa, sauna massagem, sala de jogos, brinquedoteca, quadra e parque infantil.

No Twitter, Geddel havia acusado, em julho de 2015, o banqueiro Marcos Marianni de estar “assediando” vereadores de Salvador para se posicionarem contra o empreendimento imobiliário. “O banqueiro Marcos Marianni tá assediando vereadores, pois ele se acha o dono da Lad da Barra”, ele disse na época.

SEMELHANÇAS COM ‘AQUARIUS’

Nas redes sociais, os usuários comparam, ironicamente, o imbróglio da vez a “Aquarius”, centro da maior polêmica do mandato de Calero à frente do MinC até então. Considerado um dos melhores filmes brasileiros do ano, o elogiado longa de Kleber Mendonça Filho, estrelado por Sonia Braga, não foi eleito o representante do Brasil para o Oscar, e Calero foi acusado de boicotar o filme.

Quando “Aquarius” estreou no Festival de Cannes, em maio, Kleber e o elenco do filme protestaram contra o impeachment de Dilma Rousseff, ato duramente criticado por Calero. A ironia? Clara, a personagem de Sonia Braga, luta para preservar o edifício que dá título ao filme, localizado no Recife, evitando que ele seja demolido por empreiteiros para dar lugar a um luxuoso arranha-céu, exatamente como o La Vue.