Esportes

Antigo entregador de quentinhas comanda seleção de vôlei

201609081251200988.jpg-G622TC8DE.1.jpg

Paralimpíada ESPORTE 08/09Renato Leite tinha 18 anos e sonhava ser jogador de futebol. Além de times da várzea paulistana, como o Mickey, da Zona Sul, foi volante no São Caetano. Para ganhar dinheiro, trabalhava como empacotador de supermercado e depois como balconista de rotisserie. Preparava-se para mais um teste promissor nos gramados quando resolveu comprar uma moto para entregar quentinhas. Assim, pensou, poderia conciliar o novo trabalho com os horário dos treinos. Mas, numa conversão em uma avenida movimentada do Morumbi, em São Paulo, onde não havia sinal de trânsito, ele embicou a moto, não viu um carro, conduzido pelo pai de um campeão olímpico do vôlei, e pronto: ambos tentaram desviar para o mesmo lado e Renato teve fraturas expostas na perna direita.

? Lembro que acordei no hospital feliz porque vi que ainda estava com a minha perna ? contou o ex-motoboy, hoje com 34 anos, que depois teve de amputá-la na altura do joelho.

Sua vida mudou radicalmente após esse episódio, e mesmo assim ele conseguiu chegar à elite do esporte: é titular na seleção brasileira de vôlei sentado que busca, a partir de hoje, contra os Estados Unidos, às 10 horas, no Riocentro, uma medalha inédita na Paralimpíada.

Renato se formou em Educação Física, fez pós-graduação em Atividade Física Adaptada e curso de extensão em operações de câmbio. Ele trabalha numa instituição financeira e, somando suas rendas, ganha cerca de oito vezes mais do que na época das quentinhas.

? Nasci para vencer, e a adversidade não me abateu. Hoje estou melhor do que antes porque fui atrás. Não queria ser o coitadinho, como não sou. Fiz as coisas acontecerem ? fala o levantador, um dos mais experientes da seleção, com cerca de 400 jogos com a camisa do Brasil. ? Minha sorte foi ter sido bem orientado pelo fisioterapeuta que me apresentou ao esporte adaptado. Hoje faço o mesmo. Quando vejo alguém amputado, tento encaminhá-lo.

E isso não é força de expressão: ele já ?descobriu? vários acidentados do trânsito para a seleção de vôlei, abordando-os em shoppings e até na torcida rival em estádios de futebol. Foi Renato quem descobriu Wellington Platini, ?um atleta universal”, segundo definição do técnico do Brasil, Fernando Guimarães. Num jogo entre Palmeiras e Corinthians, Renato viu um grandalhão amputado entre os palmeirenses e o convidou para o esporte.

Conteúdo de uma matéria só: quadro de medalhas

Além disso, o levantador tem ?informantes? em hospitais paulistas, incluindo o Hospital das Clínicas, um dos mais importantes do País.

? Eles me ligam quando sabem de alguém que precisará amputar. Daí, faço visitas ? revela Renato, que também mudou a vida do pai, seu Valmir, que trocou o emprego de vendedor de instrumentos musicais pelo de socorrista do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

O técnico Fernando, que também orienta o Clube dos Paraplégicos de São Paulo, atual campeão brasileiro, e trabalha com hipoterapia (tratamento para deficientes físicos ou mentais, com a ajuda de cavalos), elogiou Renato e disse que apesar de levantador, é o melhor líbero do mundo. É que o atleta atuou por três anos nessa posição e foi eleito o melhor na posição no Mundial na Polônia, em 2014.

? É espetacular. O melhor líbero do mundo está pronto para levar a seleção como levantador. Nesse tempo em que comandou a defesa, fez o time crescer ? explicou o treinador, que também é fã de Wellington: ? Um atleta universal, único, que faz tudo. Se está machucado, eu fico meio manco sem ele no time . Não era atleta e só cresce a cada dia, após ter sido descoberto pelo Renato. Montei o time em função dele ? adiantou Fernando.