Cotidiano

ANS formaliza adesão de empresas a projeto voltado a idosos

IDOSOS SAUDE.jpgRIO ? Nesta terça-feira, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) formaliza a adesão das operadoras e prestadores de serviços de saúde ao projeto ?Idoso Bem Cuidado?. De acordo com a agência reguladora, foram selecionadas 64 propostas ? 50 de operadoras e 10 de prestadores de serviços ? dentre 74 recebidas. O número de projetos que devem ser implementados é quatro vezes superior ao que tinha sido inicialmente previsto.

O ?Idoso Bem Cuidado? é um dos principais projetos de indução da qualidade da ANS. Com ele, espera-se promover a melhoria contínua na prestação de serviços com resultados efetivos na saúde dos beneficiários. A iniciativa é apoiada em duas premissas essenciais: a mudança da prestação dos serviços e a implementação de modelos de remuneração alternativos ou complementares ao que é atualmente utilizado (fee-for-service, ou seja, pagamento por procedimento ou serviço).

? A assistência ao idoso é uma preocupação permanente, mas a atenção sobre esse problema tem crescido nos últimos anos em função do aumento da longevidade populacional e da prevalência de doenças crônicas não-transmissíveis, e a ANS está atenta a essas questões. O sistema de saúde brasileiro não está preparado para atender às pessoas idosas de forma organizada ? afirma Martha Oliveira, diretora de Desenvolvimento Setorial da ANS.

Ela lembra que, hoje, os brasileiros com 60 anos ou mais representam aproximadamente 11% do total da população, e que estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que o número de pessoas com idade superior a 60 anos no Brasil deve aumentar cerca de cinco pontos percentuais nos próximos 30 anos. Além disso, diz Martha, nas últimas décadas, as doenças crônicas não-transmissíveis tornaram-se as principais causas de óbito e incapacidade prematura.

? Quase um quarto do total de mortes e doenças é observado em pessoas com idade acima de 60 ? em geral, doenças de longo prazo, como câncer, problemas respiratórios e cardíacos, artrite e osteoporose. Esta carga de doenças afeta pacientes, suas famílias, os sistemas de saúde e as economias nacionais. A maioria das doenças crônicas que acometem o idoso tem na própria idade o principal fator de risco. Assim, o foco de qualquer política, na atualidade, deve ser a promoção do envelhecimento saudável, com manutenção e melhoria, quando possível, da capacidade funcional dos idosos, prevenção de doenças, recuperação da saúde (ou estabilização das enfermidades) e a reabilitação daqueles que venham a ter sua capacidade funcional restringida. Contudo, o maior investimento do sistema de saúde ? tanto público como privado – continua sendo na prática assistencial tradicional, com ênfase na estrutura hospitalar, o que não atende esse novo cenário.

Evitando redundâncias de exames e prescrições médicas

Segundo a diretora da ANS, um ponto importante para que as mudanças ocorram é a coordenação do atendimento prestado desde a porta de entrada no sistema e ao longo de todo o processo de cuidado. Com isso, é possível evitar redundâncias de exames e prescrições, interrupções na trajetória do usuário e complicações e efeitos adversos gerados pela desarticulação das intervenções em saúde. Como consequência, será possível observar a utilização mais adequada dos recursos do sistema como um todo, tanto por profissionais de saúde quanto pelo próprio paciente:

? Precisamos de mudanças imediatas, através da implantação de estratégias de prevenção e gestão dessas condições crônicas, detecção precoce de enfermidades de alta prevalência e melhor uso das tecnologias e capacitação das equipes de saúde para gerir múltiplas condições crônicas. Em síntese, precisamos de um modelo de atenção à saúde do idoso eficiente e que aplique todos os níveis de cuidado: da captação e do monitoramento aos momentos finais da existência. É isso que o projeto Idoso Bem Cuidado está propondo, melhorias que afetem o idoso, que ampliará sua vida com o máximo de bem-estar; a família, que terá um ente querido ativo e participativo; e o sistema de saúde, que evitará internações repetidas e de alto custo.

Martha ressalta que o ?Idoso Bem Cuidado? segue a mesma lógica de outro projeto desenvolvido pela ANS, o ?Parto Adequado?: reorganização da prestação dos serviços de saúde, provocando mudanças no modelo assistencial, e adoção de novos modelos de pagamento dos prestadores que tenham o usuário como centro das ações ao invés de focar no pagamento por volume de procedimentos ou serviços. Assim como o ?Parto Adequado?, diz, o projeto ?Idoso Bem Cuidado? também será implantado inicialmente como experiência piloto. E, ao longo de um ano, a agência irá monitorar e mensurar os resultados de cada participante, e os modelos que se mostrarem viáveis poderão ser replicados para o conjunto do setor, de forma a estimular mudanças perenes no sistema de saúde. A diretora afirma que os primeiros resultados já poderão ser mensurados e avaliados em poucos meses.

O grande número de propostas encaminhadas à ANS surpreendeu positivamente, e, de acordo com a diretora, é um indicativo do interesse do setor em mudar o modelo atual de cuidado ao idoso para que ele se torne mais eficiente tanto para o paciente como para o próprio sistema de saúde.

Novos projetos a caminho

? Na saúde suplementar, a participação de idosos é bastante expressiva, especialmente entre as mulheres, as quais apresentam uma participação relativa superior à observada para o total da população. Dos cerca de 50 milhões de vínculos de beneficiários a planos privados de assistência médica no Brasil, 12,5% referem-se a pessoas com 60 anos ou mais. A movimentação dos idosos beneficiários de planos de saúde apresenta um potencial para o aumento dos gastos do sistema. Por tudo isso, a mudança do modelo assistencial para um modelo mais eficiente e sustentável é premente ? diz Martha.

Além do projeto ?Parto Adequado?, que já está mostrando resultados muito bons, e do próprio ?Idoso Bem Cuidado?, que se inicia agora com uma expectativa bastante positiva, Martha adianta que a ANS tem outras duas iniciativas em andamento para áreas de atenção prioritárias: odontologia e oncologia.

? Em breve teremos novidades quanto à implantação dessas duas propostas ? conclui.