Cotidiano

Andrew Haarsager, designer: 'Precisamos de novas formas de prever o futuro'

“Tenho 30 anos, trabalho como designer em Nova York e moro em Williamsburg, Brooklyn. Atuo como diretor de estratégia na Tellart, estúdio de design que cria experiências imersivas casando o mundo das técnicas analógicas tradicionais e o da tecnologia.”

Conte algo que eu não sei?

Quando olham para o nosso trabalho, as pessoas pensam em alguma tecnologia espetacular. Mas, na nossa empresa, nós nos inspiramos na mesma medida em técnicas tradicionais. A companhia foi criada como um estúdio de design para ser um ambiente onde tecnologia de imagem, software e redes podem ser usadas como material, ao lado de madeira, tecido e vidro. Ao longo de 15 anos, foi assim que trabalhamos, selecionando o material apropriado para os mais diversos desafios. Às vezes, é alguma tecnologia avançada, às vezes, é cera de abelha e algodão, como estamos fazendo no Museu do Amanhã.

Qual é o conceito da exposição “Milênios Cósmicos”?

Todo ano, separamos parte do tempo para fazer algo que celebra o fim do ano ou um feriado. Este ano, nos inspiramos na ideia de navegação celeste. No ano passado, nosso cofundador e designer chefe, Matt Cottam, atravessou quase 2 mil quilômetros no Atlântico guiado apenas pelas estrelas, em vez de GPS. Por milhares de anos, era assim que se navegava, usando como referência a Estrela Polar. Mas, no futuro, como o eixo da Terra não é exato, a posição da estrela vai mudar ao longo de milhares de anos. Com esse projeto, quisemos criar mapas sobre a mudança da constelação do ponto de vista do Polo Norte ao longo dos próximos cem mil anos.

Qual é o papel do design diante dessas transformações?

O ritmo de mudança com a tecnologia está mais rápido do que nunca. Os designers têm uma nova responsabilidade, que é ajudar a mediar a relação entre as novas tecnologias e as pessoas que vão utilizá-las. Cabe a nós criar imagens imersivas para entender o impacto das decisões de políticas públicas tomadas a partir desses avanços tecnológicos. Precisamos de novas formas de prever o que vai acontecer no futuro. E é nisso que trabalhamos: experiências imersivas em larga escala que representam o mundo que resultará das políticas públicas decididas hoje.

O design é uma ferramenta para as políticas públicas?

Com certeza. Todo fevereiro, no Museu do Futuro de Dubai, somos parceiros do governo na criação de uma exposição imersiva para o World Government Summit, onde líderes mundiais discutem políticas públicas sobre temas como mudanças populacionais, migração e aquecimento global. A exposição que criamos sobre o futuro desses temas é feita para mostrar a esses líderes como se dará o impacto das políticas públicas de hoje. O trabalho não é distópico, mostra o futuro “preferível”, com base em pesquisa.

Há resultados concretos de experiências como essas?

Em 2014, essa exposição ajudou a inspirar uma competição de criação de drones com objetivos humanitários. O time suíço, que ganhou naquele ano, criou um veículo de resgate para situações de desastre. O drone era envolto em uma espécie de caixa. Se você imaginar um desastre como o de Fukushima, no Japão, sempre há pessoas presas em lugares de difícil acesso, como regiões afetadas por alta radioatividade. São lugares multo perigosos para um resgate por humanos. Mas o drone pode chegar até lá e procurar sobreviventes. O design da caixa que o envolve permite que ele role pelo chão, atravessando a fumaça e chegando até as pessoas. Com esse design, ele pode fazer coisas incríveis.