Cotidiano

Analistas: Microsoft pode se beneficiar de rede profissionial do LinkedIn

2016 915992756-201606131310041865_AP.jpg_20160613.jpgRIO E NOVA YORK – Ao anunciar a compra do Linkedin por US$ 26,2 bilhões, a Microsoft selou sua entrada no universo das redes sociais ? dominadas por rivais como Google e Facebook. E, na avaliação de especialistas, a gigante da tecnologia pode se beneficiar da rede de profissionais que se conectam pelo serviço para faturar.

Mark Skilton, professor de prática em Sistemas da Informação da Warwick Business School, no Reino Unido, vê o negócio como boa estratégia para a Microsoft ampliar o uso de seus produtos e serviços.

? A Microsoft pode explorar essa aquisição de muitas formas. Não apenas pela base de 106 milhões de usuários ativos (da LinkedIn), porém mais pela rede de profissionais que a LinkedIn gerencia e que poderia ser integrada às ferramentas de produtividade do Office e também de produtos de CRM (ferramenta de gestão de relacionamento com clientes), para ampliar portfólio e serviços ? explica Skilton.

NUVEM PROFISSIONAL COM REDE PROFISSIONAL

Negócios Tech 13-06O presidente executivo da Microsoft, Satya Nadella, afirmou tratar-se da união da nuvem profissional com a rede profissional, numa menção às principais ferramentas que profissionais utilizam para fazer seu trabalho ? como os programas do Office ? e à rede que conecta essas pessoas.

Em comunicado, Nadella afirma que ?juntos podemos acelerar o crescimento da LinkedIn, assim como do Microsoft Office 365 e do Dynamics, com o objetivo de fortalecer cada pessoa e organização do planeta.?

O Office 365 é o pacote de programas da Microsoft em nuvem, e o Dynamics, a plataforma CRM da empresa de Bill Gates.

A Microsoft pretende acelerar os planos para ganhar dinheiro com a LinkedIn por meio do crescimento das assinaturas individuais e empresariais, assim como com o aumento da publicidade. Quer utilizar a rede como um tecido social, interligando ferramentas como Windows, Outlook, Excel, Skype e outros produtos. A companhia concentra esforços em migrar sua oferta de software e serviços para a web.

? O mais interessante parece ser a combinação com o Dynamics. Ter uma ferramenta de CRM integrada com os contatos profissionais da LinkedIn seria um diferencial competitivo ? avalia Rodrigo Amantea, professor do Insper.

Bruno Garcia, professor de marketing do Ibmec-Rio, lembra que a LinkedIn é um negócio ainda em consolidação:

? Combinar a plataforma de ferramentas da Microsoft a essa rede de profissionais faria todo sentido, do ponto de vista do usuário. A questão é como se dará na prática. A Microsoft patinou em algumas aquisições no passado. Pensou bem, mas falhou na integração.

Com a operação, a LinkedIn pode ampliar sua habilidade para vender produtos. Ano passado, a empresa adquiriu a Lynda.com, serviço on-line de de treinamento em video, por US$ 1,5 bilhão. Agora, poderá oferecer os vídeos do Lynda dentro dos produtos da Microsoft.

O anúncio de que o pagamento será feito com emissão de títulos de dívida, porém, levou a Moody?s a colocar a atual nota da Microsoft, ?Aaa?, em revisão para rebaixamento. A agência de classificação de risco argumenta que financiar a aquisição com dívida vai dobrar a relação entre a dívida bruta e a geração de caixa da empresa.

25 MILHÕES DE USUÁRIOS NO BRASIL

O negócio é o terceiro maior em fusões e aquisições na área de tecnologia, segundo dados da consultoria Dealogic. E supera os R$ 21,8 bilhões que o Facebook pagou pelo WhatsApp em 2014. A oferta de US$ 196 por ação representa um prêmio de 49,5% sobre o preço de fechamento dos papéis da LinkedIn na sexta-feira. E teve reflexos no valor das ações das duas companhias, ontem. No caso da empresa alvo do negócio, isso se traduziu em alta de 46,64%. Até sexta-feira, os papéis da LinkedIn acumulavam queda de 41,76% no ano. Já a companhia fundada por Bill Gates viu o valor de suas ações cair 2,68%, enquanto, de janeiro até o último dia 10, o recuo fora de 5,89%.

As duas empresas disseram que o acordo é ?definitivo? e que será fechado ainda este ano. O negócio, no entanto, depende da aprovação dos órgãos reguladores de Estados Unidos, União Europeia, Canadá e Brasil. A rede social com foco profissional LinkedIn, baseada na cidade californiana de Mountain View, tem mais de 430 milhões de membros. O Brasil, sede da empresa para a América Latina, é o terceiro maior mercado no mundo, atrás de EUA e Índia, com 25 milhões de usuários.

No site, é possível fazer contatos profissionais, atualizar currículos e buscar oportunidades de emprego. A compra da LinkedIn é uma forma de a Microsoft, que perdeu boa parte do boom de consumo na web, avançar nas mídias sociais.

?Hoje estamos refundando a LinkedIn?, disse Reid Hoffman, presidente do Conselho de Administração da rede para profissionais, no comunicado. A Microsoft afirma que o LinkedIn ?manterá sua marca, cultura e independência?, além da liderança de Jeff Weiner. Ele continuará como presidente executivo da rede social, reportando-se a Nadella, da Microsoft. O negócio, acrescentaram, tem o apoio do presidente e maior acionista do LinkedIn, Hoffman.

A LinkedIn abriu seu capital em 2011. Os papéis chegaram a US$ 270 em fevereiro, mas perderam valor quando a empresa passou a prever um 2016 mais fraco. No primeiro trimestre, a receita avançou 35% no período, para US$ 861 milhões. O resultado líquido, contudo, foi um prejuízo de US$ 45,3 milhões.

Em 2014, a Microsoft comprou a Mojang, criadora do jogo Minecraft, por US$ 2,5 bilhões. Um ano antes, adquiriu a finlandesa Nokia, com o objetivo de avançar em telefonia móvel, por pouco mais de US$ 7 bilhões. Em 2011, o serviço de telefonia pela internet Skype foi comprado por US$ 8,5 bilhões.

(*) Com agências internacionais