Cotidiano

ANÁLISE: Uma nova crise para Erdogan

2016 953213266-Turkey Europe_20161126.jpgA Turquia tem trabalhado em estreita colaboração com a Rússia para encontrar uma solução para os civis retidos na cidade síria de Aleppo, devastada pela guerra. Isso não significa que todos os turcos aceitem o papel da Rússia em um conflito destrutivo em sua porta. Protestos foram realizados fora dos edifícios diplomáticos russos em Istambul e Ancara. Na cena do assassinato do embaixador russo, o atirador teria declarado que suas ações eram uma retribuição aos bombardeios da Rússia de áreas controladas por rebeldes em Aleppo.

?Não, não é Sarajevo, 1914?, escreveu o colunista turco Mustafa Akyol, referindo-se ao assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando por um nacionalista sérvio, que precedeu a Primeira Guerra Mundial. ?Ancara e Moscou não farão guerra. Muito pelo contrário, eles podem até se aproximar.?

Mas o presidente Recep Tayyip Erdogan enfrenta uma difícil situação geopolítica. As relações da Turquia com o Ocidente estão em declínio, com muitos governos condenando o expurgo de opositores de Erdogan na esteira de uma tentativa fracassada de golpe em julho. E, agora, ele será obrigado a fazer concessões à Rússia após o assassinato do embaixador.

? Isso não poderia ter acontecido em um pior momento para Erdogan, que negociava cuidadosamente com Vladimir Putin sobre a Síria. Uma aproximação com a Rússia era algo que ele precisava ? disse Henri Barkey, diretor do programa de Oriente Médio do Woodrow Wilson Institute, em Washington. ? A única coisa a ser decidida é o preço que terá que pagar.

Agora, a Turquia pode permitir que os aliados do sírio Bashar al-Assad em Moscou e Teerã deem forma ao futuro da Síria.

O país culpa Fethullah Gülen, clérigo exilado que é acusado por Ancara de ser o cérebro por trás da tentativa frustrada de golpe em julho. Putin disse que também queria saber ?quem dirigiu? o assassino. A Turquia pode aumentar a pressão sobre Washington para extraditar Gülen, um impasse que joga a favor de Moscou.

? Através das teorias da conspiração, ao apontar o dedo para o Ocidente, poderemos ver um novo giro da Turquia à Rússia ? disse Aykan Erdemir, da Fundação para a Defesa das Democracias.

Erdogan se apoia em uma base muçulmana sunita conservadora, muitos dos quais estão irritados com os ataques apoiados pelos russos contra os rebeldes na Síria. O presidente turco tem que equilibrar a raiva de seus apoiadores com a necessidade de consertar relações com a Rússia e o Irã.

Enquanto isso, o assassinato do embaixador russo foi o último sinal de uma crise de segurança na Turquia. O país viu um pico preocupante em atentados terroristas ligados a facções separadas de extremistas islâmicos e separatistas curdos, tudo alimentado pelo caos em espiral na Síria.

? No geral, a estratégia é desviar as questões de segurança interna tanto quanto possível em direção a conspirações globais ? disse Erdemir. ? Admitir falha de segurança interna é admitir má governança.