Cotidiano

Análise: Partidos devem se atentar para os riscos de 2018

BRASÍLIA – Embora seja geralmente usada para acompanhar a evolução da popularidade presidencial, não está aí a grande novidade da pesquisa CNT/MDA divulgada nesta quarta-feira. O dado que mostra que quase metade da população avalia negativamente o governo e apenas 10% o avaliam positivamente já estava contabilizado na sondagem realizada em dezembro pelo Datafolha, instituto mais conhecido e usado como principal referência, ao lado do Ibope, para acompanhar o humor dos eleitores.

A grande novidade da pesquisa, e que necessita ser acompanhada de perto nas próximas sondagens de outros institutos, é a consolidação da candidatura de Jair Bolsonaro. O deputado fluminense figura pela primeira vez de forma clara disputando o segundo lugar, empatado tecnicamente com Marina Silva, Aécio Neves e Geraldo Alckmin. No entanto, enquanto Marina e Aécio vêm perdendo continuamente intenções de voto, Bolsonaro cresce pesquisa após pesquisa.

Exceto Bolsonaro, apenas Lula tem conseguido ampliar sua popularidade, fenômeno que vem ocorrendo desde o início do ano passado. Hoje, o petista lidera em todos os cenários, inclusive na disputa do segundo turno – outra novidade a ser confirmada por novas sondagens, já que no Datafolha de dezembro ele perdia por nove pontos percentuais para Marina Silva.

O crescimento de Bolsonaro deve acender de imediato um sinal de alerta à toda classe política. Ex-capitão do Exército, o deputado tornou-se a face mais popular da direita, que cresce na sociedade de forma visível desde 2013. Defensor explícito da ditadura de 1964 e do uso da tortura, alvo de processos por atacar deputadas mulheres, Bolsonaro tenta trilhar o mesmo caminho de Donald Trump nos Estados Unidos. À margem das estruturas partidárias, vocaliza o conservadorismo que ficou relegado a segundo plano no Brasil desde as eleições de 1994.

Nas últimas seis disputas presidenciais, PSDB e PT duelaram pelo poder tendo como divergência central a condução da política econômica. Nesse embate, os eleitores conservadores acabavam migrando em algum momento para o campo tucano mais por rejeição à esquerda do que por afinidade ideológica com os liberais. Agora, eles têm pela primeira vez um representante que começa a se mostrar competitivo.

Se isso preocupa toda a classe política, deve merecer atenção ainda maior entre os antigos herdeiros desses votos. Nos Estados Unidos, um país continental e heterogêneo como o nosso, os caciques do partido Democrata acreditaram piamente que conteriam o candidato histriônico confiando no bom senso popular e na rejeição às falas bizarras do bilionário. Diante do grande apoio que Barack Obama tinha, lançaram a impopular Hillary Clinton confiando que o eleitor não teria alternativa que não fosse migrar para uma posição mais ponderada. Deu no que deu.

A reação mais óbvia da classe política será acreditar que o tempo e o aumento do conhecimento irão ampliar a rejeição ao ex-militar e que a força dos grande partidos irá prevalecer. A pesquisa MDA não traz a rejeição de cada candidato, mas no Datafolha de dezembro do ano passado Bolsonaro estava com 18% de rejeição, contra 44% de Lula, 30% de Aécio, 17% de Alckmin e 15% de Marina.

Em 2016, não foram poucos os caciques que apostaram que a força de suas máquinas locais imporia seus candidatos a prefeito contra outsiders que, em seus cálculos, acabariam derrotados pela impopularidade. Assim, Eduardo Paes entregou a prefeitura do Rio a Marcelo Crivella e Belo Horizonte caiu nas mãos de Alexandre Kalil. Gerlado Alckmin, por sua vez, entendeu melhor o cenário eleitoral, lançou um candidato afinado com a insatisfação popular evidenciada em todas as pesquisas, e hoje tem em João Dória seu principal cabo eleitoral para 2018.