Cotidiano

Análise: no Whatsapp do PMDB do Rio, Cabral sai do grupo

O Rio parecia viver tempos de glória. Segurança nos eixos, chuva de verbas federais, investimentos nas alturas, Copa, Olimpíada. O céu era o limite. Não parece, mas foi há muito pouco tempo.

As conquistas, hoje, servem para aumentar o tamanho do tombo, coroado com um feito inédito, provavelmente, em escala global: dois ex-governadores presos em menos de 24 horas. Coisa para o livro dos recordes. Mais um, pede música. Alguém duvida?

Considerando a grande quantidade de denúncias endereçadas a Sérgio Cabral Filho na Lava-Jato não se pode dizer exatamente que essa é uma manhã surpreendente. Mas ela simboliza como nenhuma outra a derrocada de um carreira e também de um grupo político, ao menos como ele é conhecido hoje.

Cabral foi campeão de votos, elegendo-se deputado, senador e governador por duas vezes (2007-2014). No comando do estado, viveu o céu e o inferno na política. Foi de pai das UPPs, período em que desfrutou de enorme popularidade, a pai dos empresários, quando foi obrigado a submergir.

Sua relação com os empreiteiros, aliás, é um ponto de inflexão. A trágica revelação após um acidente de helicóptero de sua relação com Fernando Cavendish, um campeão de contratos com o estado do Rio, dá início a uma série de revezes que culminaram com o período de ostracismo e reclusão.

Durante os protestos de 2013, o governador tornou-se alvo preferencial. Manifestantes ocuparam a rua em frente ao seu prédio. Queixas contra a violência policial chegaram a levar faixas do “Fora Cabral” para a Avenida Paulista. O político que chegou a ser presidenciável viu sua popularidade despencar de 55% para perto de um dígito.

Boa parte desses protestos tinha um colorido político, diga-se. Assim com a queda de seus índices de aprovação deveria, à época, ser compreendida num contexto de descrença generalizada com a classe política. Mas a poeira baixou e os ventos não melhoraram para Cabral. Pelo contrário.

A ruína administrativa da gestão de seu vice, Luiz Fernando Pezão, a crise sem precedente dos serviços públicos no estado e as revelações da Lava-Jato, que transformaram a proximidade indesejável com empresários em evidências de corrupção, culminando com a prisão desta quinta-feira, não lhe deixam quase nenhuma margem para recuperação.

Nos últimos tempos, restou a Cabral palpitar sobre os rumos incertos do PMDB. Comunicava-se, dentre outras formas, por um grupo de Whatsapp com Pezão, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o presidente da Alerj, Jorge Picciani. Cabral saiu do grupo.