Cotidiano

Análise: Lady Gaga 'esquece' 'Joanne' e aposta em campo seguro para brilhar no Super Bowl

RIO ? Em pouco mais de 13 minutos, Lady Gaga apareceu no teto do NRG Stadium, saltou para o gramado, cantou (trechos de) 13 músicas, apresentou coreografias, tocou keytar (olha ele aí!), trocou de roupa, fez uma recepção ao receber um passe com a bola de futebol americano e sumiu no gramado. Foi o suficiente para uma apresentação memorável no intervalo do Super Bowl. Links Lady Gaga

Para além das sutis manifestações contrárias ao governo Trump e das pirotecnias de praxe do evento, a cantora entregou uma performance musical sólida aos milhares de torcedores presentes ao estádio em Houston ? e para os milhões de espectadores pelo mundo.

Foi o cartão de visitas perfeito para o anúncio, horas depois, da turnê mundial de “Joanne”, seu quinto disco, que passará pelo Brasil em setembro, com apresentação única no Rock in Rio. Após três anos focados em apresentações menos grandiosas, entre elas aquelas em que cantou standards de jazz ao lado do veterano Tony Bennett divulgando o premiado “Cheek to cheek”, Gaga provou que está pronta para voltar com tudo ao universo pop que a ela pertence.

O uso reduzido do playback, algo bem raro em apresentações como essa, reforçou ainda o que Gaga já vinha provando em aparições recentes, como quando cantou “Til it happens to you” no Oscar do ano passado: é dela uma das melhores vozes dessa geração. O alcance e a habilidade vocal, antes ofuscado em meio a tantas parafernálias visuais que a cantora usava no início da carreira, hoje é merecidamente aplaudido.

Para o sucesso do show, é bem verdade, Gaga optou por deixar de lado a divulgação de “Joanne”. Entre as 13 canções que estiveram no repertório da noite, apenas a balada “Million reasons”, que garantiu um belo momento piano e voz, faz parte do disco lançado em outubro passado. Foi estranho não ver uma performance do principal hit do trabalho, “Perfect illusion”, por exemplo. Ou uma menção à ótima “John Wayne” ? ambas combinariam perfeitamente com o clima da festa.

Outra ausência sentida na performance foi a participação de convidados especiais, algo clássico no Super Bowl. Talvez seja reflexo do “roubo de protagonismo” causado pro Beyoncé no ano passado, quando ofuscou a apresentação da banda Coldplay (relembre), anfitriã daquela noite em que recebeu ainda o cantor Bruno Mars. Uma dobradinha com Bey, grávida de gêmeos, em “Telephone”, música que gravaram juntas, por exemplo, seria histórica. Lady Gaga’s FULL Pepsi Zero Sugar Super Bowl LI Halftime Show | NFL

A apresentação de Gaga começou com dois covers de clássicos do cancioneiro americano: “God bless America”, de Irving Berlin, e “This land is your land”, de Woody Guthrie ? o título deixa bem claro a quem a inclusão da música foi endereçada. Eles foram previamente gravados ao longo da semana passada, por conta do uso de 300 drones que formaram a bandeira dos Estados Unidos do céu (regras da segurança aérea americana proíbem tantos drones sobrevoarem eventos abertos ao público).

O show ao vivo entrou para valer quando a cantora saltou do teto. A partir daí, foi um hit atrás do outro. “Poker face” contou com menções a “Dance in the dark”, “Just dance”, “LoveGame”, “Paparazzi” e “The edge of glory”, seguidas por “Born this way”, “Telephone” e “Just dance” (a do keytar) ? sucessos de um período em que Gaga causava abalos sísmicos constantes no universo pop, no qual reinava quase que absoluta. O respiro de “Millions reasons” preparou o terreno para que “Bad romance”, o maior hit da carreira de Gaga, encerrasse a perfomance de maneira apoteótica.

Com a iminente licença-maternidade de Beyoncé, Lady Gaga está mais pronta do que nunca para retomar a coroa que já lhe pertenceu.