Cotidiano

Análise: esvaziamento do núcleo de amigos de Temer complica reformas

BRASÌLIA – O presidente Michel Temer vive uma crise política que tem como principal consequência imediata o seu isolamento dentro do próprio Palácio do Planalto, com o afastamento de colaboradores de uma vida inteira, como o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Temer queria partir para um feriado de carnaval tranquilo na Bahia, mas a semana termina com problemas acumulados.

Entre aliados, o clima é de apreensão: a preocupação é que o trunfo de Temer no Congresso – com uma maioria sólida na Câmara e no Senado – caia por terra e comprometa a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista.

? Temer está vivendo um momento muito complicado. Todo o núcleo duro está saindo. E ficar sem pessoas para conversar é muito complicado para um governante ? disse um aliado de Temer.

A perda dos colaboradores mais próximos faz Temer se fixar na dupla Moreira Franco e Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, o que tem irritado a base de parlamentares na Câmara.

A reclamação de parte da base, principalmente do PMDB, é que Maia tem maior diálogo com Temer hoje do que os parlamentares do próprio partido. E que Moreira Franco “fala demais”, inclusive declarando que o partido não deveria fechar questão sobre a Previdência.

Mas a maior consequência do isolamento de Temer é uma aproximação com o PSDB do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Aécio tem ido cada vez mais ao Palácio do Planalto e no Palácio da Alvorada. O PSDB já conseguiu emplacar o deputado Antonio Imbassahy na Secretaria de Governo, que tem o papel de se relacionar com o Congresso. Mas Aécio perdeu Serra dentro do governo.

? Essa aproximação só causa ainda mais ciúmes no PMDB ? disse um aliado.

Entre os interlocutores de Temer, há uma perplexidade com o “fogo amigo” do advogado José Yunes, amigo do presidente e que declarou ter recebido um pacote a mando de Padilha. Abatido e com problemas de saúde, Padilha pediu licença médica.

O sentimento político é que Padilha poderá não voltar, se a sangria das denúncias for maior e sua voltar significar maior desgaste no Palácio do Planalto.

Do núcleo duro de colaboradores de Temer, apenas o ministro Moreira Franco permanece. Padilha está afastado; o senador Romero Jucá (PMDB-RR), investigado na Lava-Jato, teve que deixar o ministério do Planejamento; Geddel Vieira Lima também teve que deixar a Secretaria de Governo. Da roda mais próxima de Temer, ainda saíram do governo José Serra, que alegou problemas de Saúde para deixar o Ministério das Relações Exteriores, e Henrique Eduardo Alves, que foi presidente da Câmara e ministro do Turismo.

Padilha tem dito que volta no dia 06 de março, mas médicos e amigos dizem que uma cirurgia como a que ele fará requer repouso de 12 a 15 dias. Seria o tempo de avaliar as consequências das declarações de Yunes.

A base parlamentar ainda reclamou da escolha do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça. A decisão foi de Temer, dentro de um acordo com Rodrigo Maia sobre espaço para os outros partidos nos cargos na Câmara.

Os estragos na condução política podem comprometer o momento de respiro na economia. O próprio anúncio da liberação de recursos de contas inativas do FGTS _ que tinha causado boa reação na população – e a nova queda da taxa de juros viraram notícias de menor importância nas últimas horas.

Temer usará os dias do carnaval para medir o tamanho da tempestade e tentar retomar uma agenda na próxima semana.

? A decorrência natural é que Temer, para fugir do isolamento, demande cada vez mais a presença de quadros do PSDB que possam apoiá-lo e com quem trabalhe com um certo grau de confiança maior. Lamentavelmente ele perdeu esses interlocutores de confiança no PMDB, não sobrou ninguém e a bancada é um deserto. Ele tem chamado o Aécio cada vez com mais frequência ao Planalto e o Imbassahy vai crescer muito. É discreto e confiável. Vai gerar ciúmes? Vai. Mas lamentavelmente eles não tem como reagir a isso ? avalia um dirigente tucano