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Análise: Botafogo avança com sofrência e agora, com tempo

Dissemos na quarta-feira que haveria sofrência. E houve.

Na sua segunda fase preliminar da Libertadores, o Botafogo obteve uma classificação heroica contra um tricampeão sul-americano num estádio lotado. Resiliente, o time de Jair Ventura não se abateu com o gol de Montenegro e não tremeu nas cobranças de pênaltis ao fim do 1 a 0. Um herói sob suspeita saiu do banco e defendeu três pênaltis do Olimpia. O roteiro jamais permitiu comemorações antecipadas no Paraguai.

Conforme dissemos, superar Colo-Colo e Olimpia credencia o Botafogo a entrar num dos mais difíceis grupos da Libertadores como um time testado. Aclimatado à disputa. Enquanto outras equipes terão que superar o batismo da estreia, o Botafogo de Jair Ventura já jogou em alta competitividade e submeteu seus nervos e os de sua torcida a exames de confiança que normalmente a Libertadores só proporcionava a partir da fase de nocautes pós-grupos.

A sofrência se tornou um trunfo, e foi isso que dissemos na nossa edição do GLOBO que apresentou a partida de Assunção, na quarta-feira.

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O jornalismo esportivo caminha por uma linha tênue: promovemos a emoção que o futebol distribui pelos estádios, mas precisamos ser honestos com o torcedor. O botafoguense real sabe disso.

Sabe, por exemplo, que a equipe ainda não está no melhor de sua forma física e que atua no limite neste início de temporada – basta ver a ausência do recém-contratado Walter Montillo. Sabiamente, o planejamento priorizou a taça continental, em detrimento de um Estadual que mostrou nesta semana toda a sua própria incapacidade de se levar a sério.

Esse botafoguense também sabe que a equipe ainda não está totalmente encaixada e que começou a disputa entre improvisos. Camilo e Montillo juntos no setor intermediário ainda são uma incógnita. É de se imaginar se terão uma chance antes da estreia contra os Estudiantes do veterano Juan Sebastián Verón, que terminaram em quarto no último Campeonato Argentino. O jogo será no dia 14 de março, no Engenhão, daqui a 20 preciosos dias de preparação.

É fundamental aproveitar esse período para acertar posicionamentos, melhorar a saída de bola e descobrir formas de usar peças como Sassá de forma inteligente.

Até lá o Botafogo assiste do sofá às finais da Taça Guanabara e só terá um compromisso pelo Carioca: uma partida contra o Volta Redonda no Engenhão, que deverá ser marcada para o sábado anterior à estreia contra os Estudiantes. Um mês depois, com o calendário esticado da competição, viaja ao mítico Atanasio Girardot, em Medellín, para enfrentar um Atlético Nacional que inspira respeito, ainda que tenha perdido sua formidável base na última janela. Tudo isso com a questão anímica da estreia resolvida.

O Botafogo aprendeu a sofrer. Agora precisa aprender a fluir com menos dificuldade e mais opções rumo ao campo adversário – principalmente nos jogos fora de casa. Finalmente terá tempo para isso. Era tudo que queríamos ver.