Cotidiano

Análise: BC abre espaço para cortar juros mais rapidamente

INFOCHPDPICT000054649631RIO – Embora tenha confirmado as expectativas da maioria dos analistas de mercado ao reduzir a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual nesta quarta-feira, o Banco Central abriu espaço para cortes maiores no futuro. Para economistas ouvidos pelo GLOBO, o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) deixa claro que a autoridade monetária pode decidir reduzir a Selic em 1 ponto percentual já na próxima reunião, marcada para os dias 11 e 12 de abril.

? Ficou dentro do que todo mundo estava esperando. O comunicado tem um conteúdo dovish (jargão do mercado financeiro para um comportamento favorável à redução de juros). Coloca um viés de que, se tiver uma surpresa, vai ser de aceleração do ritmo de corte ? afirma Maurício Molan, economista-chefe do Santander.

O analista, no entanto, ainda conta com mais um corte de 0,75 ponto na próxima reunião. Para Molan, uma aceleração de ritmo só deve ser observada se a inflação desacelerar mais que o previsto e o desempenho da atividade econômica se mostrar pior do que o esperado. Hoje, são dois fatores que ainda não estão no radar:

? O Banco Central quer dizer que o mais provável é que reduza a taxa básica em 0,75. E se surgir alguma evolução favorável, está pronto para partir para o 1 ponto percentual. Não conto com essa surpresa. Meu ponto é que (o comunicado) aumenta a probabilidade, não é o mais provável (um corte de 1 ponto percentual).

Luis Otavio Leal, economista-chefe do banco ABC, concorda que o posicionamento do BC dá margem para interpretações do mercado, mas segue prevendo mais uma redução de 0,75 ponto em abril. Na visão do analista, apesar da decisão esperada, o comunicado deu recados importantes, não só para o mercado, mas também para o Congresso.

? O BC dá um recado para os políticos da importância de passar as medidas (como reforma da Previdência) para que os juros caiam mais rápido ? afirma.

inflação Leal acrescenta ainda que os próximos passos da autoridade monetária dependerão de uma definição sobre o que o Copom considera a chamada taxa de juros neutra, um conceito que divide economistas de mercado. O termo se refere a uma espécie de taxa ideal, aquela que permite que a economia cresça em todo o seu potencial sem gerar descontrole de preços. Nas contas do economista, esse número gira em torno de 5,5% e 6,5%, já descontando a inflação. Mas há outros cálculos que variam até 8%, por exemplo.

O economista lembra que o BC terá tempo de dar mais sinais ao mercado, principalmente no próximo Relatório de Inflação, que será divulgado em 30 de março. No documento, além de apresentar as projeções revisadas para a alta de preços, a autarquia poderá explicar ao mercado o que considera uma taxa neutra. Na prática, mostrará mais claramente até onde pode ir com o ciclo de corte de juros ? hoje previsto para terminar quando a Selic chegar em 9% ao ano no final de 2018.

Para Leal, é cedo para dizer se o BC está sendo conservador:

? A gente só vai saber depois. Todo mundo criticou muito o BC, até eu mesmo, de não ter começado a cair os juros em agosto do ano passado. Na época, achava-se que ele devia ter flexibilizado. Talvez se ele tivesse seguido essa ideia, a gente não teria com a expectativa de inflação abaixo da meta e de 2018 para frente tudo na meta, com uma possibilidade não desprezível de cair ainda mais.