Cotidiano

Alvo de operação da PF era conhecido como?Ary fichinha?

RIO ? O agente fazendário Ary Ferreira da Costa Filho, da Receita estadual, era conhecido nos corredores da Secretaria Estadual de Fazenda como “Ary fichinha”. Isso porque, relatam alguns colegas, distribuía senhas para os empresários que o procuravam em busca de algum tipo de vantagem, principalmente o perdão de multas por sonegação de ICMS.

O mandado de prisão contra ele lança a Operação Calicute em mais um nicho de negócios do grupo liderado pelo ex-governador Sérgio Cabral: blindagem fiscal em troca do pagamento de propinas.

Ary, que se apresentava como amigo de juventude de Cabral e o ajudava a organizar bailes para a terceira idade quando ensaiava os primeiros passos na vida política, atuava principalmente junto à Inspetoria de Veículos e da Material Viário da Fazenda, mas tinha forte influência nas Inspetorias Especializadas de Substituição Tributária, de Bebidas e de Supermercados.

A primeira denúncia da Calicute foi encaminhada à Justiça no dia 5 de dezembro. No dia seguinte, Ary pediu exoneração do cargo de assessor especial do gabinete do governador Luiz Fernando Pezão. Ele ocupava a função desde o início do governo do amigo Sergio Cabral, em 2007, só permanecendo fora do Palácio Guanabara por três meses (de 6 de julho a 4 de outubro de 2010, quando exonerou-se pela primeira vez, para ser renomeado em seguida).

Os investigadores chegaram ao nome de Ary com a ajuda de um acordo de colaboração assinado por um dos empresários beneficiados pela blindagem vendida pelo agente fazendário. Adriano José Reis Martins, um dos sócios da Eurobarra e da Américas Barra, rede de concessionárias de veículos, contou que Ary o protegia dos rigores da fiscalização de ICMs.

Pelo menos três imóveis da família de Adriano e uma empresa ligam o agente fazendário ao esquema de benefícios e blindagem fiscal. Parentes de Ary, incluindo o agente de tributos, ocupam três apartamentos na Avenida Lúcio Costa, Barra, pertencentes a firmas ligadas ao empresário Adriano Monteiro Martins, pai de Adriano José e chefe do clã que comanda a rede de concessionárias. Ary também foi sócio do empresário Gustavo Ferreira Mohammad, dono da Creações Opção, rede de malharias que teria ajudado Cabral a lavar dinheiro.

Ary mora, segundo as investigações, no apartamento nº 1201, Bloco 1, do Condomínio Atlântico Sul, na Avenida Lúcio Costa, pertencente à Gran Barra Empreendimentos e Participações, onde a PF foi à procura dele hoje. Esta empresa, que está em recuperação judicial, pertence a João do Carmo Monteiro Martins e a Jaime Fernando Reis Martins, respectivamente primo e irmão de Adriano Monteiro Martins. Em recuperação judicial desde 2014, a empresa propôs a Ary que assumisse a titularidade do imóvel, para não ser alcançado pela lista de bens disponíveis aos credores. Mas o apartamento, ao que parece, não mudou de dono.

A atual mulher de Ary, Michele dos Santos Linhares, com quem o agente teve uma filha em 2014, mora no 1203 do Bloco 3 do mesmo condomínio. Este apartamento pertence à Imbra Imobiliária Brasileira, sociedade anônima que tem como acionistas Adriano Monteiro Martins e seu filho, Adriano José (donos da concessionária Americas) e a empresa Grypho Investment Inc., offshore com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe.

É também da Imbra o apartamento do oitavo andar, bloco 8, do Condomínio Lés Residences Saint Tropez, atualmente ocupado por Márcia Maria Aguiar da Costa, ex-mulher de Ary, e duas filhas do casal.

A soma total de renúncia de tributos favorecendo o grupo de Adriano e família (Eurobarra, Dirija Niteroi, Barrafor, Americas Barra Rio, Disbarra, Klahn, Space Veiculos, Nova Yen Motors e Mitsumar Veiculos), de 2008 a 2014 (governo Cabral), foi de R$ 1,3 bilhão.