Esportes

Aliviado com fim da Olimpíada, Nuzman quer novo mandato no COB

nuzman.jpgRIO – ?Alívio?. Com uma palavra, Carlos Arthur Nuzman definiu,
neste domingo, o sentimento de ver os Jogos Olímpicos chegando ao fim. Em entrevista ao
GLOBO, o presidente do Comitê Rio-2016 exaltou a Olimpíada do Rio, tratou os
incidentes na área da segurança como ?casos isolados? e afirmou que os
transtornos na operação – como as falhas de infraestrutura na Vila dos Atletas,
além das longas filas para o acesso do público e a falta de comida nas
lanchonetes do Parque Olímpico no primeiro dia do evento – ?acontecem em toda
Olimpíada?. E reconheceu: a crise política o teria deixado ?desesperado?, se já
não tivesse larga experiência em crises.

Com um currículo esportivo extenso, em que transitou de atleta – foi jogador
de vôlei – a dirigente esportivo, Nuzman ainda não definiu com clareza os
próximos passos. Quer ser eleito para mais um mandato à frente do Comitê
Olímpico do Brasil (COB), onde está desde 1995 – a atual gestão se encerra em
janeiro do ano que vem; ele diz que a próxima reeleição ?possivelmente? será a
última. Tem ainda compromissos à frente do Comitê e, depois, pensa em entrar na
área dos cursos e palestras – um cargo público, diz, está descartado. As décadas
de experiência deixaram a certeza de que nunca havia enfrentado uma questão tão
complicada quanto a organização de uma Olimpíada.

– Não há nada mais difícil. É o evento mais complexo do planeta, com a maior
dimensão que se pode ter – acredita.

cerimônia de encerramento 2108Em um escritório montado no luxuoso hotel da Praia da Barra da Tijuca fechado
para os membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) e outros integrantes da
?família olímpica?, Nuzman afirmou ainda que o orçamento do Comitê está
equilibrado, apesar do pedido de socorro estatal para assegurar a realização da
Paralimpíada. Segundo ele, o repasse de R$ 250 milhões, fruto de um acordo
firmado na semana passada entre União e prefeitura, é natural, por tratar-se de
um ?patrocínio?. Parte da verba virá de estatais ligadas ao governo federal,
enquanto uma outra parcela será bancada pela prefeitura e convênios, entre a
União e o Comitê.

A poucas horas da cerimônia de encerramento e minutos
antes da final do vôlei masculino – Nuzman chegou ao Maracanãzinho a tempo de
ver a sétima medalha de ouro brasileira -, o dirigente traçou um balanço
positivo dos Jogos e evitou citar eventuais erros que tenha visto ao longo do
período de preparação e de competição.

– Nós entregamos muito mais do que nos comprometemos a
entregar (no Dossiê de Candidatura). O metrô (Linha 4) não estava previsto,
assim como o Boulevard Olímpico (na Praça Mauá). A Vila (dos Atletas), todos
gostaram. Você pode dizer que havia ajustes a serem feitos. Sim, como em
qualquer Olimpíada. São ajustes que você faz até quando você se muda de casa. A
transformação da cidade é algo histórico. Em termos de Jogos Olímpicos, nenhuma
é parecida – defendeu Nuzman, colocando o Rio na frente de Tóquio-1964 e
Barcelona-1992, exemplos sempre citados quando se fala em transformações
pós-olímpicas.

Nuzman também minimizou os lugares vazios nas
arquibancadas, mesmo em sessões cujos ingressos todos já haviam sido vendidos.
Houve espaços inclusive na cerimônia de encerramento, ontem. Segundo ele, o
comitê organizador ?cumpriu? a sua parte, e os espaços provavelmente podem ser
explicados por patrocinadores e federações internacionais que não usaram os
tíquetes que receberam.

INDEFINIÇÃO PREOCUPA POUCO

– Durante as competições, um agente da Força Nacional, que
tinha vindo ao Rio reforçar a segurança, foi morto por traficantes ao entrar por
engano em uma das favelas do Complexo da Maré. Houve ainda relatos de assaltos a
um atleta britânico e a um australiano. Nuzman assegura que não há dano à imagem
da Olimpíada.

– Acho que vocês já responderam por mim, porque vocês estão dando, no
universo de mais de um milhão de pessoas que estiveram no Rio, alguns casos
pontuais e fora dos Jogos. Essa é a demonstração clara de que o Rio se saiu no
maravilhosamente bem. Lamento pelo soldado que foi morto. Ele errou o caminho
dele e aconteceu, como você disse, fora do local de competição – afirmou.

Apesar da clara indefinição quanto à parte esportiva do
legado, o dirigente se diz tranquilo. O prefeito Eduardo Paes e o ministro do
Esporte, Leonardo Picciani, já apresentaram um projeto para as instalações
esportivas, mas há vários pontos em aberto, especialmente sobre de onde virá o
financiamento para a manutenção das arenas. Nuzman diz que o início dos Jogos
interrompeu conversas que já estavam em andamento e garante que as arenas terão
uma destinação adequada após a Olimpíada. Ele afirma que o COB tem interesse em
permanecer à frente do Parque Aquático Maria Lenk, que foi integrado ao Parque
Olímpico e funcionava, antes dos Jogos, como Centro de Treinamento para atletas
do nado sincronizado, saltos ornamentais, judô, entre outras modalidades. Sobre
os espaços novos, como duas arenas cariocas ? a terceira vai virar uma escola ?,
o Centro de Tênis e o Velódromo, Nuzman afirma que o COB não tem como arcar com
os custos de manutenção. Uma das possibilidades é que as confederações
esportivas assumam parte da operação, em parceria com empresas, como pode vir a
ser o caso do tênis.

– O Comitê Olímpico não tem dinheiro de manutenção. Ele (COB) quer utilizar
e, logicamente, vai pagar o que tiver que pagar, mas isso precisa estar
resolvido ? afirmou, apontando para um papel em que havia escrito ?Ministério do
Esporte? e ?Parcerias Público-Privadas?. ? Mas é garantido que não tem elefante
branco, porque todas elas (arenas) vão ser utilizadas.

O dirigente não destacou nenhum momento como o mais
complicado de toda a Olimpíada ? ?sou uma pessoa preocupada o tempo inteiro?,
esquivou-se ?, mas não disfarçou o desapontamento com Ryan Lochte. O nadador
americano inventou que ele e outros três atletas haviam sido assaltados após uma
festa na Zona Sul, quando voltavam para a vila. Após a mentira ser descoberta,
Lochte e o Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC, na sigla em inglês) pediram
desculpas públicas.

– É uma decepção muito grande. Acho uma tristeza que atletas campeões não
sigam o exemplo de heróis olímpicos. Acho que eles se diminuíram e demoraram a
pedir desculpas. Eles foram desrespeitosos com o Brasil, trataram o Brasil como
um país de uma categoria inferior. Todos os países têm que ser respeitados. Eu
sei que o Rio ganhar a sede foi um desafio muito grande e um desafio para muita
gente – disse.

O desafio incluiu um processo de impeachment, o
afastamento da presidente Dilma Rousseff e uma indefinição que se arrastou por
meses até que o calendário deixasse claro quem seria o ocupante do cargo no dia
da cerimônia de abertura.

– Se não tivesse a bagagem e a experiência que tenho, realmente ia ficar
desesperado.