Cotidiano

Alemanha: ?Preso sírio que se matou não tinha risco iminente de suicídio?

BERLIM ? Autoridades da Alemanha afirmaram nesta quinta-feira que o suspeito sírio que se enforcou na prisão não demonstrava risco iminente de suicídio. O episódio foi considerado um escândalo no país e agora o governo deverá abrir uma investigação para entender como autoridades permitiram que ele se matasse com uma camiseta. A história pode paralisar as investigações sobre o suposto ataque terrorista que estava sendo planejado por Jaber al Bakr, enquanto ainda não se sabe se ele tinha cúmplices.

O ministro da Justiça, Sebastian Gemkow, disse à imprensa que o suspeito havia passado por uma avaliação psicológica e as medidas de segurança necessárias haviam sido tomadas. Agentes carcerários negaram que Bakr fosse supervisionado apenas uma vez a cada uma hora.

A capacidade de al-Bakr de cometer suicídio mesmo sendo vigiado, após a demora das autoridades em capturá-lo ? agentes não haviam conseguido encontrá-lo mesmo depois de um alerta quatro dias antes ?, despertou críticas. ?Por que a polícia não conseguiu dar conta disso??, questionou o tabloide ?Bild? em sua manchete.

Segundo o chefe da penitenciária, o prisioneiro estava calmo no dia em que se matou. O detento estava fazendo greve de fome.

? Não deveria ter acontecido, mas aconteceu ? disse Gemkow, que assumiu a responsabilidade sobre o caso mas descartou a possibilidade de renunciar ao cargo.

Autoridades ainda tentam descobrir se o suspeito tinha cúmplices em seu plano de conduzir um ataque com explosivos, disse o principal promotor público do Estado da Saxônia.

? Ainda não sabemos se havia pessoas no comando ? afirmou Klaus Fleischmann em entrevista coletiva.

Segundo investigadores, o suspeito planejava realizar um ataque aos moldes dos atentados de Paris (novembro) e Bruxelas (março), inspirado pelo Estado Islâmico (EI).

BRAVURA DE REFUGIADOS

As autoridades alemãs receberam na semana passada um alerta de que al-Bakr havia obtido explosivos e aprendido na internet a preparar bombas improvisadas, com apoio de membros do EI ? ao qual se dizia afiliado. No sábado, a polícia da Saxônia emitiu um alerta em sua busca. Ele foi preso na segunda-feira após ser amarrado por outros dois sírios em Leipzig.

O caso chamou a atenção do mundo pela ação de bravura dos refugiados. Eles o receberam em uma estação de trem depois de terem sido contatados por al-Bakr numa rede social voltada a refugiados sírios. Depois de reconhecerem-no por imagens divulgadas pela polícia, imobilizaram o compatriota e avisaram os agentes.

? Ele resistiu um pouco. Não queria ser amarrado, e disse: ?Darei dinheiro a vocês, não me entreguem. Entrei nisso por engano?. Claro que não acreditamos ? disse um dos refugiados, Mohamed. ? Respeitamos este país e seu povo, seu governo e suas leis. Não queremos algo do tipo acontecendo aqui.

A ação fez com que políticos pedissem o reconhecimento aos refugiados:

? Os jovens merecem a Ordem Federal do Mérito. É difícil imaginar uma integração maior do que essa. É exemplar ? declarou o social-democrata Johannes Kahrs.