Política

Alckmin descarta rever imposto sindical em troca de apoio do Centrão

Partidos exigem um novo modelo de financiamento dos sindicatos

Brasília – Após acertar aliança com partidos do Centrão, o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, descartou a possibilidade de o acordo eleitoral incluir a revisão da reforma trabalhista. A posição levou o Solidariedade a ameaçar sair do bloco e voltar a apoiar Ciro Gomes (PDT). Ligado às centrais sindicais, o Solidariedade quer a volta do imposto sindical.

Alckmin foi categórico: “Não vamos revogar nenhum dos principais pontos da reforma trabalhista. Não há plano de trazer de volta a contribuição sindical”, escreveu o tucano em uma rede social.

O Centrão é formado também por DEM, PP, PR e PRB.

Majoritariamente pró-Ciro Gomes (PDT), o Solidariedade queria que, no acordo com Alckmin, fosse discutida uma alternativa ao desconto obrigatório de um dia de trabalho dos empregados – extinto durante a reforma aprovada há pouco mais de um ano no Congresso. O partido defende a chamada contribuição negociada, facultativa às convenções trabalhistas de categorias que aceitassem financiar os sindicatos.

A mensagem de Alckmin irritou a direção da Força Sindical, central que está na base da fundação do Solidariedade, do deputado Paulinho da Força (SP). “Do jeito que ele [Alckmin] falou, ficou mal. Não vai colocar nada no lugar [do imposto sindical]? Conversamos com o Paulinho para não fechar nada com ele por enquanto. Essa informação prejudica mais ainda. Parece que o homem não entende o que se quer discutir”, disse o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna. “Isso é muito pouco. A questão para nós é o que ele vai fazer com a reforma da Previdência, com a reforma trabalhista. Não é só passar um mel na nossa boca.”

Os sindicalistas pressionaram Paulinho a manter conversas com outras siglas. Durante a semana, na residência oficial da Câmara, ele chegou a dizer que “estava fora” do bloco se não fosse atendido. Paulinho telefonou na sexta-feira para líderes do PCdoB e do PSB para saber o rumo que tomariam – se marchariam ou não com Ciro. Ouviu de representantes da legenda comunista que a hipótese seria discutida no fim de semana. “Existe chance ainda de ter uma frente com Ciro, PCdoB, PSB e PDT”, afirmou Juruna.

Em conversas reservadas, integrantes da cúpula do partido avaliam que Alckmin acabará sendo o candidato do presidente Michel Temer e, portanto, “difícil de carregar” na campanha. Para o Solidariedade, Temer esvaziou a candidatura de Henrique Meirelles (MDB) ao atuar pessoalmente para que o Centrão não apoiasse Ciro, jogando todos no “colo” de Alckmin.

Acordo

O acerto do Centrão com Alckmin passou pela garantia de que os partidos aliados terão fatias em um futuro governo e autonomia para manter o comando da Câmara e tentar tirar do MDB o controle do Senado. Embora os dirigentes do bloco neguem a cobrança por cargos, as demandas são tratadas como “óbvias” na cúpula do PSDB. Um coordenador da campanha de Alckmin disse, reservadamente, que cada partido quer, no mínimo, manter o espaço atual no Governo Temer.

O Centrão pediu que Alckmin intercedesse em acordos regionais e abrisse espaço na coordenação da campanha, criando núcleos integrados pelo bloco, nas áreas jurídica e de marketing.

 

Líderes do bloco tratam Josué Gomes como vice

Filiado ao PR, o empresário Josué Gomes foi exaltado sexta-feira pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e líderes do Centrão, que o trataram como virtual candidato a vice do tucano na disputa presidencial nas eleições 2018. Apesar do consenso, o PT não desistiu da aproximação com Josué e vai trabalhar para que ele não aceite compor chapa com Alckmin. Em nota à imprensa, o empresário, que está no exterior, agradeceu à indicação do Centrão e citou seu pai, o ex-vice-presidente José Alencar, que morreu em 2011.

“Tomei conhecimento da decisão do Partido da República, ao qual sou filiado, de, juntamente com DEM, PP, PRB e Solidariedade, de apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República, sugerindo o meu nome como possível vice da chapa. Relembro o meu saudoso pai, que dizia que o importante na chapa é quem a encabeça.” E acrescentou: “Vice não manda nada e deve evitar atrapalhar”.