Agronegócio

Agronegócio vive catástrofe

O oeste é, segundo representantes do setor produtivo, a região mais afetada com a paralisação em todo o País

Cascavel – Representantes do setor produtivo da região, do Paraná e de outros estados, de sindicatos, de forças de segurança e representantes políticos se reuniram na tarde de ontem na Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel) para atualização dos dados da greve que entrou ontem no nono dia, e elencar ações que serão levadas em caráter de urgência aos governos.

A princípio, a reunião foi anunciada como de estratégia para um plano de ação para a retomada dos abates dos frigoríficos. Após uma primeira conversa com a governadora Cida Borghetti e representantes do Estado, por meio de videoconferência, o que se apresentou para a imprensa eram expressões preocupantes.

Em tom de desabafo e de total desespero, o ponto central do apelo foi pela conscientização para o fim imediato dos protestos que estão travando toda a economia com perdas bilionárias ao setor produtivo e que deixa, somente no agronegócio, prejuízos diários de R$ 30 milhões no oeste e que já estão afetando toda a sociedade. Assim, a soma das perdas já chega, apenas neste setor, a R$ 270 milhões.

Portas fechadas

O encontro foi realizado a portas fechadas e após a reunião representantes falaram à imprensa. Segundo o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, a situação de caos foi vivida até o último sábado, e que, neste momento, o que se vê já é uma “condição de catástrofe”, com a mortandade de animais que já deveriam ter sido abatidos e do comprometimento das plantas inteiras produtivas.

No oeste, são pelo menos 50 empresas paradas, nove são frigoríficos e as demais são de prensagem de óleo de soja, fornecedores de insumos e de produção de ração.

Por falar em ração, segundo Dilvo, a situação fica ainda mais crítica a partir de hoje, quando ela chega ao fim em quase todo o oeste e os componentes – soja, milho e farelo – não conseguem chegar à indústria para a transformação, para então ser levada ao campo. “Além das mortes por falta de ração, há ainda a mortalidade dos frangos, porque são alojados 13 aves por metro quadrado para serem abatidas com três quilos, mas hoje eles já estão com 4,2 quilos, provocando um sufocamento, o que os leva à morte dentro dos aviários”, reforçou.

Sacrifícios

Além dos milhares de animais morrendo nas granjas, os pintainhos estão sendo sacrificados antes mesmo de deixar as incubadoras e os problemas de sanidade são dados como certo com a elevação da mortandade dia após dia. O cenário põe em risco um trabalho de anos para conquistar credibilidade no mercado internacional.

Quanto aos abates, 2,5 milhões de frangos e 20 mil suínos deixam de ir para os frigoríficos todos os dias e não há um cronograma para a retomada das operações. “A região oeste vive hoje a pior situação do Brasil, é onde está tudo bloqueado”, afirmou Grolli ontem à imprensa.

Exportações

As exportações são outro ponto que preocupam e muito. Além de não exportar um único container desde a semana passada, um dos riscos iminentes é a perda da credibilidade e do mercado internacional. Além disso, cada navio não embarcado tem previsão de multa aos fornecedores, potencializando as perdas. “Ainda garantíamos alguns ganhos graças às exportações porque o mercado interno trabalha no limite financeiro. Perder mercado internacional é algo ainda mais preocupante”, destacou o diretor da Frimesa e vice-presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento, Elias Zorek.

Empresas fecharão as portas e pode haver demissões

Na reunião realizada a portas fechadas, abordou-se a possibilidade de empresas fecharem algumas unidades e que demissões serão uma consequência direta, além dos prejuízos à economia e à empregabilidade em médio prazo, num efeito cascata da paralisação do setor produtivo.

O presidente da Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), Edson Vasconcellos, pediu para que os governos “reestabeleçam a ordem”, função que só a eles cabe, permitindo de vez a passagem dos veículos e a possibilidade de retomada da produção.

Ele também pediu bom senso a toda a população para que o movimento cesse e que as empresas possam voltar a produzir.

No fim da tarde, o grupo participou de uma videoconferência com a governadora Cida Borghetti para pedir auxílio para a liberação das cargas, além do pedido de prorrogação de impostos, como o recolhimento do ICMS, por pelo menos seis meses. “Entendemos que 2018 já está com prejuízos e que parte deles não será revertida e que 2019 está comprometido”, ressalta Elias Zorek.

“Em momento algum queremos discutir a legitimidade do protesto, pautas importantes foram conquistadas, mas agora precisamos pensar na população como um todo, na produção dos alimentos, na economia. Os governos são transitórios, precisamos pensar no Brasil que fica”, reforçou Edson Vasconcellos, que resumiu: “Estamos colocando fogo na nossa própria casa”.

Cadeia produtiva do Estado

De acordo com o levantamento da Faep, 245 mil suínos deixaram de ser abatidos no Estado do Paraná, impedido com que ao menos R$ 107 milhões circulassem na economia paranaense. O documento aponta ainda que 59 milhões de frangos não foram abatidos, enquanto quase 70 milhões acabaram morrendo no Brasil, entre frangos e pintainhos. Clique aqui e confira a íntegra do estudo. 

Exército vai escoltar caminhões e liberar estradas

No fim da tarde de ontem o Exército Brasileiro começou a atuar nas rodovias federais para garantir o abastecimento no Paraná. Por meio de nota, a assessoria de imprensa da corporação confirmou que as ações ocorrem para permitir o escoamento de cargas essenciais (insumos de saúde, combustíveis, GLP, produtos agropecuários e gêneros alimentícios) dos centros de armazenamento ou produtores para os pontos de distribuição das grandes e médias cidades.

Em nota, a informação é de que “as operações de apoio à Polícia Rodoviária Federal e outros órgãos de segurança pública, visando à liberação das principais estradas no Paraná e Santa Catarina, a 5ª Divisão do Exército, em coordenação com a Marinha do Brasil e Força Aérea Brasileira irá empregar, desde já, escoltas seletivas, check-points em pontos estratégicos e patrulhas motorizadas em trechos de grande importância, atuando de forma mista com os órgãos de Segurança Pública”.

O objetivo é permitir o escoamento significativo de cargas (insumos de saúde, combustíveis, GLP, produtos agropecuários e gêneros alimentícios) dos centros de armazenamento ou produtores para os pontos de distribuição das grandes e médias cidades.

As principais estradas de atuação serão: no Paraná: BR-116, BR-277, BR-376 e BR-101.

Perdas incalculáveis e risco de não pagar salários

O G7 – que reúne as principais entidades do setor produtivo do Paraná – fez um apelo aos manifestantes para que retomem suas atividades. Falando em prejuízos incalculáveis e em risco de desabastecimento total à população, o grupo disse que os empresários do Estado podem não ter condições de pagar funcionários nem impostos na semana que vem, início do mês de junho, caso os protestos não se encerrem imediatamente.

Composto pelas Federações das Indústrias (Fiep), da Agricultura (Faep), do Comércio (Fecomércio), dos Transportes (Fetranspar) e das Associações Comerciais (Faciap), além da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) e da Associação Comercial do Paraná (ACP), o G7 se reuniu com a governadora Cida Borghetti na noite de segunda para discutir o tema.

Ontem uma frente que se intitula nacional de luta instigou a continuidade das paralisações, convocando a população para ir às ruas novamente nesta quarta-feira, fechando bancos e empresas e protestando nas ruas.

Confederação dos Autônomos pede fim da greve

Ontem, a CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) emitiu uma nota oficial conclamando a categoria para que coloque fim à paralisação. Elencou todas as reivindicações da categoria que foram atendidas pelo governo federal e reforçou que “daqui para frente só haverá prejuízo aos caminhoneiros de modo que a CNTA e todas as entidades sindicais de suas bases pedem a compreensão pelo fim das paralisações”. Veja a nota na íntegra.