Cotidiano

Advogados de Lula e Moro discutem durante audiência

SÃO PAULO. O clima ficou tenso nesta segunda-feira entre os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o juiz Sérgio Moro durante audiência de testemunhas de acusação do processo sobre a compra de um tríplex no Guarujá. Os defensores reclamaram de ter o trabalho cerceado pelo magistrado, que, por sua vez, os acusou de tentarem tumultuar o processo.

Enquanto o ex-senador Delcídio Amaral respondia a perguntas do procurador Diogo Castor de Mattos, uma discussão de quase cinco minutos terminou com o juiz pedindo o interrompimento da gravação feita pela Justiça Federal. Os advogados de Lula reclamavam que o procurador estava fazendo perguntas fora do objeto da denúncia: o tríplex do Guarujá.

? Se houver interferência toda hora, encerramos o dia. Existe um contexto, e essas perguntas estão dentro desse contexto. É inapropriado. Vocês estão tumultuando a audiência.

O advogado José Roberto Batochio respondeu de forma ríspida:

? Pode ser inapropriado, mas é totalmente jurídico e legal. Aqui o limite é a lei. A lei é a medida de todas as coisas. A defesa tem direito de fazer uso da palavra. Ou se vossa excelência quiser eliminar a defesa, e eu imaginei que isso já tivesse sido sepultado em 1945, pelos aliados, e vejo que ressurge aqui, nessa região agrícola do nosso país. Se quiser suprimir a defesa, não há necessidade nenhuma de continuarmos aqui.

Ao ouvir novamente Moro dizer que o procurador estava fazendo perguntas para indicar o contexto em que ocorreram os crimes, o advogado disse que o contexto só existia ?na cabeça de vossa excelência?. Depois disso, a gravação foi cortada

? Acho que a defesa está faltando com a educação ? chegou a afirmar Moro, mais adiante.

Nesse momento, os advogados protestavam contra o fato de o juiz fazer perguntas a Delcídio com temas que não haviam sido abordados anteriormente pelo Ministério Público ou pela defesa. O magistrado deveria, na avaliação dos defensores, apenas esclarecer pontos questionados anteriormente.

? Lavro o protesto porque a interpretação do juízo aberra da constituição ? acusou um dos defensores.

? A defesa perturbou o Ministério Público o quanto pôde. Tirou o dia para tumultuar o processo ? rebateu o juiz.

De forma irônica, Moro perguntou se a defesa permitiria que ele seguisse com as suas perguntas.

Antes, Batochio questionou se Delcídio era um ?colaborador de plantão?, que servia nos processos para ?cobrir a anemia probatória da acusação?.

Moro disse que esse era um argumento que deveria ser deixado para as alegações finais.

? Vossa excelência não precisa me dizer quando eu vou usar, porque eu sei perfeitamente ? respondeu Batochio, novamente de forma ríspida.

Após um advogado de Lula fazer referência a um prova no processo, o procurador Castor não conseguiu encontrar o documento e afirmou ao juiz que tinha dúvidas de que aquele termo estava nos autos. O advogado de Lula, então, retrucou:

? Se vossa excelência não sabe o que juntou na denúncia, não sou eu quem vou agora auxiliar ?afirmou um dos advogados do ex-presidente.

Moro, então, intercedeu:

? Vou pedir para tratar com urbanidade todas as partes, inclusive o juiz.