Opinião

Acordo inédito

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A força-tarefa da Lava Jato conseguiu um feito inédito: fazer com que uma empresa envolvida em um esquema de corrupção assumisse o crime, devolvesse o valor (ou parte) roubado, fornecesse prova de outros envolvidos e ainda compensasse ao contribuinte o que lhe tirou indevidamente.

Parece sonho. Mas tudo isso pode acontecer.

Além de admitir que errou, que teve lucro indevido, que pagou propina, que alimentou esquema de corrupção, que engavetou obras e que cobrou a mais do motorista que passou pelos pedágios, a Rodonorte prometeu se converter e “desfazer” tudo isso.

Provavelmente nem aquele mais otimista que por muitos anos guardou os tíquetes do pedágio acreditava que um dia teria parte do valor de volta.

Claro que tudo isso não vai acontecer de hoje para amanhã. Depois de o acordo homologado, o pobre motorista ainda vai ter que rezar para que uma das infinitas decisões judiciais que devem aparecer para defender os outros que não estão dispostos a confessar o crime não tenham eficácia. Pelo menos por dois dos 23 anos ele poderá ser “compensado” por tudo aquilo que já pagou muito além do que deveria.

Algo inédito, sem dúvida. Mas que, por mais bonito que pareça, e justo, diga-se de passagem, ainda tem alguns “senões” para chegar ao paranaense.

Para quem esperou 20 anos para alguém admitir que o pedágio no Paraná é uma roubalheira, dois anos de desconto já é lucro. Embora todos estejam conscientes de que há perdas irreparáveis que nenhum acordo do mundo vai conseguir compensar.

Por Carla Hachmann