Cotidiano

Aclamado secretário-geral, Guterres elogia eleição transparente na ONU

United Nations Next Secretary General-G302UN6CD.1.jpg LISBOA ? Em sua primeira declaração após ser eleito o novo secretário-geral da ONU, António Guterres elogiou o processo transparente na escolha do próximo chefe da organização. No Ministério das Relações Exteriores em Lisboa, o ex-premier português fez um discurso após ter sido aclamado para o cargo no Conselho de Segurança. E também agradeceu pela confiança depositada nele pelos membros do órgão.guterres

? Para descrever aquilo que sinto neste momento bastarão duas palavras: humildade e gratidão ? disse Guterres. ? Gratidão em primeiro lugar em relação ao membros do Conselho de Segurança, pela confiança que em mim exprimiram, mas gratidão também em relação à Assembleia Geral das Nações Unidas e a todos os Estados-membros, por terem decidido um processo exemplar de transparência e de abertura, bem como aos meus colegas candidatos, cuja inteligência, dedicação e cujo empenhamento nesta campanha muito contribuíram para o prestígio das Nações Unidas.

Em uma reunião a portas fechadas, os 15 membros do Conselho de Segurança apoiaram Guterres de maneira unânime e adotaram uma resolução que o apresenta formalmente ante a Assembleia Geral das Nações Unidas como sua opção para dirigir a organização. Para ser confirmado, o nome deve ser votado e aprovado na assembleia.

Primeiro ex-chefe de um governo a liderar o organismo multilateral, Guterres promete reformar as Nações Unidas para reforçar seus esforços de manter a paz e promover os direitos humanos. Além dele, que foi chefe do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) de 2005 a 2015, mais 12 candidatos estavam na corrida para suceder o atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que deixa o cargo no final do ano.

Os dez anos à frente do Acnur podem ter tido um peso na decisão do Conselho de Segurança da ONU, uma vez que o mundo enfrenta a maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial, com 21 milhões de refugiados em todo o planeta.

? Ele tem grandes credenciais nas Nações Unidas e ser Alto Comissário para os Refugiados significa viajar pelo mundo e ver alguns dos piores conflitos com que temos que lidar ? disse o embaixador russo da ONU, Vitaly Churkin. ? É uma pessoa que fala com todos, escuta a todos, diz o que pensa, é extrovertido e aberto.

Mais cedo, Ban declarou em Roma que a eleição de Guterres à frente da organização internacional seria excelente.

? Eu conheço Guterres muito bem e considero que é uma escolha excelente ? declarou Ban à imprensa ao término de um encontro com o presidente italiano, Sergio Mattarella. ? Tem experiência como primeiro-ministro de Portugal. Seu amplo conhecimento dos assuntos mundiais e sua viva inteligência serão muito úteis para a condução da ONU em um período tão crítico. Portugal Guterres

PROCESSO MAIS ABERTO

A eleição começou em 12 de abril deste ano, quando os candidatos ao posto de secretário-geral começaram a ser chamados para dar briefings informais, em que respondiam perguntas sobre o desenvolvimento sustentável, esforços pela paz, proteção dos direitos humanos e catástrofes humanitárias.

Antes, a escolha era feita a portas fechadas e comandada por poucos países. Pela primeira vez na História, houve discussões públicas e os países fizeram campanha pelo candidato de sua preferência.

Em julho, a ONU fez uma transmissão ao vivo, para todo o mundo, pela TV e internet, em que os candidatos responderam a perguntas de diplomatas e do público.

O presidente da 70ª Assembleia Geral, Mogens Lykketoft, disse que o processo mais transparente é ?uma virada de jogo? para a ONU:

? A apresentação de duas horas de cada um dos candidatos nos diálogos da Assembleia Geral foi destaque e ajudou a incluir o público global no debate sobre o futuro da ONU.

Guterres será o quinto europeu a ocupar o cargo de secretário-geral da entidade, e o primeiro representante do continente desde a saída do austríaco Kurt Waldheim, em 1981. Desde então, o papel de secretário-geral da ONU coube ao peruano Javier Pérez de Cuéllar (1982-1991), ao egípcio Boutros Boutros-Ghali (1992-1996), ao ganês Kofi Annan (1997-2006) e ao sul-coreano Ban Ki-moon, no cargo desde 2007.