Cotidiano

Aaron Sams, professor: 'Os estudantes têm aptidão para a mudança'

201608292045319668.jpg“A melhor descrição sobre mim é que eu sou um professor. Venho de uma família
de professores e amo ensinar. Em 2000, comecei a dar aulas de química no ensino médio, e tenho mestrado em educação. Em 2006, eu e Jonathan Bergmann criamos o método Sala de Aula Invertida, no
Colorado.”

Conte algo que não sei.

Cresci com professores incríveis,
mas os que ficaram na memória não são os que davam apenas aulas expositivas, mas
aqueles que nos faziam trabalhar em projetos, na construção de algo, em testar
alguma coisa diferente. Aqueles que conversavam. Foram os de ciências
matemáticas os que mais me influenciaram e, por isso, resolvi ser um deles.
Quero ser o tipo de professor que será lembrado, aquele que desenvolve o
processo de aprendizado com os alunos.

O que é o Flipped Classroom (Sala de Aula Invertida), e como
surgiu a ideia?

Em 2006, conheci o Jon, e nós dois gostamos de tecnologia, temos interesse em
experimentar novas técnicas em sala de aula. Um dia, percebemos que os alunos
estavam desaparecendo das aulas com frequência. Vimos que estávamos gastando
muito tempo falando dentro da sala. Decidimos gravar nossas aulas e
disponibilizá-las aos alunos. Percebemos que usar o vídeo tinha um grande poder
de ensinar também. Os alunos tinham acesso ao material quando precisavam dele.
Então, vinham para a aula fazer os trabalhos, e tínhamos mais tempo com
eles.

Dá para ser aplicado em qualquer disciplina?

A maioria dos professores que usam o método, no ensino fundamental, médio e
na faculdade, é de ciências matemáticas. Entretanto, observamos que, do jardim
de infância à graduação, em todas as séries e disciplinas, há professores que
usam o método e ajudam os alunos. Pode ser aplicado em todo lugar.

E cabe em qualquer contexto social?

Ano passado, tive a oportunidade de visitar muitas escolas em diferentes
países. Claro que há diferenças culturais, diferentes dinâmicas e expectativas
dos alunos do que gostariam de fazer em aula e depois da aula. Mas os estudantes
têm aptidão para a mudança, esse é o traço comum entre eles. E assistir a vídeos
é algo que, em todo o mundo, eles fazem o tempo todo em seus celulares. É uma
mídia de fácil alcance para eles. A tecnologia ficou mais barata do que era há
dez anos. Mesmo com as diferenças sociais, vemos que o uso de um mínimo de
tecnologia pode ser aplicado em qualquer lugar do mundo.

É uma metodologia que exige mais disciplina dos alunos?

Eu não levo para esse ponto. O
legal da tecnologia é que posso acompanhar o desenvolvimento das habilidades
deles. Se eu pedir aos meus alunos para lerem um livro, não tenho ideia de quem
leu. Mas se eu posto um vídeo no gerenciador de aulas, sei quem assiste, por
quanto tempo assiste, quando clica e quais questões podem surgir.

Quais os benefícios deste método já mensurados?

Muitas pesquisas têm mostrado que,
com o uso do método, há uma leve melhora, não uma melhora enorme. O que todos
veem é que ajuda os alunos. O ponto chave não é usar apenas a sala de aula
invertida como único método, mas aliá-lo a uma sala de aula criativa, ativa, a
um método próprio de cada professor.

Como lidar com os alunos?

Esse é o desafio. Não tenho o controle total da aula, e isso me dá a
oportunidade de alcançar cada aluno. Normalmente, dou aula para 30 alunos, e
nesse modelo, falo com todos eles a cada aula. O outro lado é que, durante o
processo de aprendizado, os alunos não fazem isso sozinhos. Formam grupos, tiram
dúvidas entre eles. Acontece naturalmente, e é muito emocionante.