Cotidiano

À sombra de Trump, líderes mundiais começam a discutir o futuro do planeta

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MARRAKECH ? Chefes de estado e representantes de 180 países abrem nesta terça-feira, em Marrakech, no Marrocos, uma nova rodada de negociações na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP22). O início da cúpula acontece uma semana após a eleição de Donald Trump, um cético declarado em relação às mudanças climáticas, para a presidência da maior potência mundial.

? Os chefes de Estado podem mudar, e mudarão, mas tenho certeza que podemos manter, e que manteremos, um esforço internacional durável para neutralizar as mudanças climáticas ? disse Jonathan Pershing, negociador americano na conferência.

Os EUA são o segundo maior emissor de gases do efeito estufa, atrás apenas da China. De acordo com o Atlas Global do Carbono, o país emitiu no ano passado 5,4 gigatoneladas de carbono equivalente, com redução de 2,6% em relação a 2014. Durante o governo de Barack Obama, os EUA exerceram papel de liderança na costura do histórico Acordo de Paris, em dezembro último.

O documento entrou em vigor no dia 4 de novembro, às vésperas da eleição presidencial americana, após alcançar a ratificação de países que somados respondem por mais da metade das emissões globais. Até o momento, o tratado já foi ratificado por 110 países dos 197 que assinaram, incluindo os EUA.

Nesta semana, líderes globais começam a definir o calendário e as regras de aplicação do acordo, principalmente para que os países se comprometam a revisar suas metas a cada cinco anos. As negociações também devem começar a definir como será promovida a ajuda financeira prometida para os países mais afetados pelo aquecimento global, com medidas de transferência tecnológica e projetos de mitigação e adaptação a um pleneta mais quente.

Mesmo se Trump cumprir sua promessa de campanha de abandonar o tratado, o Acordo de Paris seguirá em vigor. Mas essa medida certamente dinamitaria o processo de negociação. Muitos países poderiam se sentir tentados a abandonar a mesa ou atrasar a aplicação de seus compromissos, já que o segundo maior poluidor não estaria comprometido a reduzir suas emissões.

A China, responsável por 29% das emissões globais de gases-estufa, se comprometeu a levar adiante o combate às mudanças climáticas, independente da posição de Washington.

? Enfrentar o desafio das mudanças climáticas é nossa responsabilidade comum e compartilhada ? afirmou o negociador chinês, Xie Zhenhua.

?ESTOU CERTO QUE ELE VAI COMPREENDER

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, afirmou nesta terça-feira esperar que o presidente americano ?entenda a urgência? que as mudanças climáticas apresentam para o mundo.

? Como presidente dos EUA, estou certo que ele vai compreender, vai ouvir e reavaliar suas declarações de campanha ? disse Ban.

Durante a disputa presidencial, Trump afirmou repetidamente que as mudanças climáticas e o aquecimento global seriam ?farsas? criadas por adversários dos EUA com o objetivo de enfraquecer o país, e prometeu abandonar o Acordo de Paris. Contudo, desde que foi eleito, não voltou a tocar no assunto.

? Falei sobre isso com o presidente eleito e vou mencionar novamente. Sem dúvida ele terá que compreender a realidade do mundo ? disse Ban, elogiando o passado empresarial de Trump. ? Sem dúvida entende as forças poderosas que já estão operando.