Cotidiano

'A polícia está investigando se realmente aconteceu estupro de vulnerável', diz delegado

201605271927524927.jpgRIO – Após ouvir a vítima e dois jovens suspeitos de envolvimento no caso, o titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), delegado Alessandro Thiers, disse que é preciso ter prudência.

– A polícia continua a investigar os fatos. É leviano falar agora o que realmente aconteceu. Vamos tomar outras providências, ouvir outras pessoas para concluir e traçar uma linha de investigação. A Polícia Civil está investigando para saber como realmente ocorreram os fatos e da maneira que ocorreram. A polícia está investigando se realmente aconteceu estupro de vulnerável – disse.

A polícia já identificou três testemunhas do caso. Elas serão chamadas para depor na próxima semana.

De acordo com o delegado, a casa localizada durante operação realizada no Morro São José Operário, na Praça Seca, na Zona Oeste é conhecida como “abatedouro”, local onde meninas são levadas para encontros casuais. A perícia já esteve na casa, mas, segundo a polícia, não houve necessidade de isolar o imóvel.

Durante o depoimento da vítima, o delegado afirmou que, por orientação da advogada, ela preferiu não continuar as declarações.

– Ela decidiu parar de falar quando começamos a questionar se ela estava sendo ameaçada por criminosos do local. Já temos as pessoas chaves para ouvir agora e vamos fazer isso na semana que vem – disse.

QUATRO IDENTIFICADOS

Quatro suspeitos de participar do estupro coletivo de uma menina de 16 anos
ou de divulgar as imagens do crime pela internet foram identificados pela
polícia. Um deles esteve na Delegacia de
Repressão a Crimes de Informática (DRCI), na Cidade da Polícia, para prestar
depoimento. Trata-se de Lucas Perdomo Duarte Santos, de 20 anos, jogador do
Boavista, time de Saquarema, na Região dos Lagos, e namorado da vítima. Lucas
chegou à delegacia acompanhado de um outro rapaz, Raí de Souza, que, num ar de
deboche, sorriu, acenou e fez sinal de positivo para jornalistas. Links_violência_mulher

A vítima do estupro também esteve na delegacia, onde permaneceu durante
quatro horas. Ela deixou a unidade sem falar com a imprensa. Foram duas horas de
depoimento e outras duas conversando com psicólogos. De acordo com a titular da
Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Decav), delegada Cristiana Bento, a
menina ainda está muito abalada e enjoada devido aos coquetéis de remédios que
precisou tomar. Muito fragilizada, segundo a policial, a adolescente chorou
durante a conversa com os psicólogos e afirmou que um dos estupradores a
procurou para pedir desculpas:

? A jovem contou que o estuprador foi pedir desculpas.
Mas ela disse que isso não tinha perdão.

A mãe da vítima, que é pedagoga, quer se mudar com a família para outra
cidade, onde ninguém os conheça. Ela relatou que a filha tem um trauma não
resolvido, desde que o pai de seu filho, um homem que era traficante numa
comunidade próxima, morreu.

NAMORADO AFIRMA QUE VERSÃO DE VÍTIMA É FALSA

De acordo com o advogado de Lucas Perdomo, Eduardo Antunes, seu cliente dá
uma outra versão para o caso. Em sua defesa, diz que dois casais estavam numa
casa abandonada na comunidade do Barão, na Praça Seca. E que o imóvel seria
usado para ?encontros casuais?.

? Meu cliente afirma que a versão da suposta vítima é
falsa. Ele diz que não teve relação sexual com ela, mas com uma outra garota, na
mesma casa. Diz ainda que Raí e a suposta vítima transaram. Em seguida, os três
saíram da casa, mas a jovem disse que iria ficar por lá. Depois disso, ele não
sabe o que aconteceu ? alegou o advogado, afirmando que Lucas nega que a
adolescente estivesse dopada.

Além de Raí, a jovem citada pelo jogador do Boavista
também prestou depoimento. Ainda de acordo com Antunes, Raí disse ao seu
advogado que filmou a relação sexual dele com a adolescente.

Tido como uma promessa no futebol, Lucas Perdomo chegou a receber elogios do
ex-jogador holandês Clarence Seedorf, quando, em 2013, encerrando sua passagem
pelo Botafogo, fez um estágio de treinador no Boavista. No primeiro depoimento
da jovem violentada à polícia, ela conta que tinha uma relação com Lucas,
conhecido como Petão, há três anos, e que teria ido dormir na casa dele, na
favela do Barão. Em seguida, disse que se lembra apenas de acordar no dia
seguinte em outra casa, na mesma comunidade, nua, amarrada e cercada por 33
homens. Lucas é filho de uma doméstica e de um pastor evangélico.

Outro suspeito de ter participado do estupro é Raphael
Assis Duarte Belo, de 41 anos. Ele aparece numa foto na internet, fazendo uma
selfie rindo, com a jovem desacordada ao fundo. Já Marcelo Miranda da Cruz
Corrêa, de 18 anos, e Michel Brasil da Silva, de 20, foram identificados por
terem divulgado as imagens do ato nas redes sociais.

Em entrevista, o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso,
afirmou que o caso deixou a própria polícia perplexa e disse que ainda não pediu
a prisão dos quatro suspeitos identificados por participar do estupro ou
divulgar as imagens do ato, porque a investigação ainda está em andamento.
Acrescentou que a polícia busca mais provas comprobatórias para inserir no
inquérito.

? Não podemos nos basear no ?ouvi dizer?. Só o exame de corpo de delito vai
apontar se houve estupro ou não. O laudo pode trazer uma certeza ou uma dúvida.
Pode demandar outra diligência para sanar uma dúvida que surge no próprio lado ?
afirmou Veloso, que acrescentou: ? Na minha visão pessoal, sem ser o chefe da
polícia, como pai, como marido, eu também penso assim: por que o sujeito ainda
não está preso? Só que, como técnico, como operador de segurança pública, como
delegado de polícia, eu pessoalmente sei que essas decisões são muito mais
complexas. A conveniência ou não da representação pelo pedido de prisão pode
acontecer mais rápido ou menos rápido, de acordo com outras questões que estão
sendo trabalhadas. Tenho certeza que a polícia vai agir com todo rigor
necessário, mas nunca fora da lei.

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