Cotidiano

A neurose de grupo dos venezuelanos

A palavra crise já não é agradável. Quando vem associada à economia, piora. A situação no Brasil não é fácil, a gente sabe. Mas na Venezuela é ainda pior. Por lá, a maioria da população está abalada e sem motivação para mudanças. Sintoma clássico do que psicólogos chamam de ?neurose de grupo?. Em 2012, Chávez pedia aos venezuelanos que combatessem a ?guerra psicológica? contra sua candidatura. Ele dizia: ?É uma operação de guerra psicológica que deve ser derrotada. Devemos seguir em frente com fé e fortalecer o nosso compromisso com a revolução?. Hoje, a guerra psicológica precisa ser contra a crise.

Apesar dos graves problemas econômicos e políticos que levam à escassez de produtos, remédios etc., parece que nem tudo está perdido. Isso porque cresce o número de venezuelanos que estão recebendo atendimentos psicológicos on-line, via Skype. Os atendimentos são, na sua maioria, gratuitos. E muitos deles motivados pelas angústias provocadas pela crise. Duas psicólogas, uma clínica e uma do trabalho, se uniram para ajudar os venezuelanos a conviver melhor com a situação, que causa tanto incômodo e instabilidade emocional. As profissionais reforçam o otimismo e a criatividade diante da crise. É um empreendimento de caráter social.

Mas será que funciona o tratamento on-line? Geralmente, atendimentos assim não são completos. Mas, claro, dão conforto, um sentimento importante para uma população majoritariamente entristecida, sem resignação e que sofre sem saber o que fazer.

E quem deseja colaborar precisa saber que este é um trabalho de intervenção psicológica em emergência, como em grandes catástrofes. Não adianta querer apenas confortar, precisa dar suporte. Descobrir manobras emocionais que tornem resilientes os que sofrem com a crise. São mães que querem alimentar seus filhos, mas não encontram mantimentos nos mercados. Pais que não têm os remédios na farmácia para comprar.

É, com certeza, muita gente infeliz. Mas existem profissionais capacitados para lidar com tais acontecimentos. Gente que mostra que a crise não é só negativa, ela cria potencialidades. Boas intervenções psicológicas mostram possibilidades, que ajudam a neutralizar ansiedades e resgatar a autoestima e a autoconfiança.

A terapia, seja ela pessoal ou on-line, ajuda a pessoa a reconhecer um ?eu? que estava escondido. Trabalha a resiliência e colabora no auxilio de metas em momentos complicados. É quase um renascimento para quem está fragilizado e infeliz, mas disposto a tentar encontrar uma resposta e superar mais esta crise. Não é vergonha fazer terapia! É privilégio!

Glauce Correa é psicóloga