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A música da festa paralímpica: samba teve lugar de destaque

cerimônia de aberturaNão houve a exuberância do painel da música brasileira da Olimpíada ? um panorama pop, para uma plateia internacional, mas com bastante legitimidade. Em vez disso, a participação da música na cerimônia de abertura da Paralimpíada apostou na síntese ? mas igualmente voltada para audiência mundial e diálogo, com a imagem esperada do Brasil no exterior.

O samba, portanto, teve lugar fundamental. Foi ele que introduziu a plateia do Maracanã à festa, com a alegria direta da roda ? formação constituinte do gênero, no que traz de não hierarquização, de espaço de criação coletiva. Sentados em círculo, artistas como Diogo Nogueira, Monarco, Hamilton de Holanda, Xande de Pilares e Maria Rita passaram por clássicos como ?Eu sou o samba?, de Zé Keti, e ?O campeão (meu time)?, de Neguinho da Beija-Flor, aquela que fala sobre ir ao Maracanã no domingo. Intérpretes modernos que dão seguimento à tradição ao lado de Monarco, mestre octagenário. O talentoso percussionista Pedrinho da Serrinha, de nove anos, completa o ciclo de passagem de bastão do samba ? uma história contada, novamente, de forma sintética ali.

Logo em seguida, uma praia foi materializada no centro do Maracanã ? o caos e a fauna rica das areias serviram também como resumo, microcosmo carioca. Dali saiu o funk no batuque em sucata do Afrolata, mantendo a temperatura alta que o samba inaugurara. Um início bem mais quente que o dos Jogos Olímpicos, que teve Paulinho da Viola numa versão elegantemente cool samba do Hino Nacional.

A cerimônia da Paralimpíada teve também no Hino Nacional seu momento de tranquilidade ? como se fizesse o caminho da praia ao Teatro Municipal. A música foi executada pelo maestro João Carlos Martins, numa interpretação delicada que emocionou o Maracanã ? e o fato de o maestro ter o movimento das mãos limitados evocava os ideais mais nobres dos jogos paralímpicos.

Cerimônia de abertura da Paralimpíada

O desfile das delegações, sonorizado pelo DJ João Brasil, trouxe o funk como base ? afirmando o gênero como a grande música popular contemporânea brasileira aos olhos do mundo, ou ao menos a grande música eletrônica brasileira. A forma como as batidas funk ganhavam diferentes sotaques ? asiáticos, africanos ? dava o caráter de celebração internacional que a cerimônia pede.

A delegação brasileira se empolgou ao som de ?O homem falou?, de Gonzaguinha. Composto durante a ditadura militar, repleta de recados aos generais (?Vambora que a hora é essa e vamos ganhar/ Não vamos deixar uns e outros melar?), o samba foi recontextualizado tanto no contexto esportivo ? é uma chamada à vitória ? como no contexto político do Brasil de 2016. No fim da noite, Seu Jorge, com a mais que sugestiva ?Vamos à luta? (também de Gonzaguinha), entrou na mesma frequência. Ele cantaria ainda ?É preciso saber viver?, de Roberto e Erasmo Carlos, num encerramento perfeitamente adequado ao espírito do evento.