Cotidiano

“Eu escolhi Cascavel”

Anthony Sanabria saiu do leste da Venezuela para encontrar no Brasil uma chance de melhorar de vida. Em seu país de origem, a crise já não permitia mais dar continuidade à microempresa de bijuterias, e a escassez, até mesmo de alimentos, só piorava suas condições. Assim, em maio de 2016, com pouco dinheiro e com uma vontade imensa de mudar, Sanabria comprou uma passagem de ônibus e deu início à nova jornada.

“Passei por vários países até chegar no Brasil. Entrei pelo Acre e de lá fui para São Paulo, onde não consegui emprego. Depois disso, fui ao Rio Grande do Sul trabalhar na colheita de maçã e quando o serviço terminou, vim para Cascavel. Aqui eu escolhi ficar e estou há quatro meses”, diz o venezuelano, que aos poucos aprende a língua portuguesa.

Hoje Sanabria está desempregado, mas não perde a esperança de se colocar no mercado de trabalho. “Tenho experiência na área de hotelaria, como garçom. Fiz alguns bicos até agora, mas não encontrei nada fixo”, conta. “Quero juntar dinheiro, ter um pouco de capital e abrir a minha microempresa aqui na cidade”, afirma.

Assim como o venezuelano, outras centenas de imigrantes e refugiados cruzam a fronteira para trabalhar. Conforme o padre Wilnie Jern, responsável pelo Centro de Apoio à Pastoral do Migrante, entre Cascavel e Cafelândia mais de cinco mil imigrantes ocupam postos formais de trabalho, principalmente nas cooperativas.

“Eles chegam aqui sozinhos, atrás de trabalho e depois que conseguem reunir algum dinheiro, trazem a família. Hoje, o Consulado do Brasil no Haiti abriu um sistema de reunificação familiar para que todos se reencontrem aqui no País. Isso tem facilitado bastante e promovido esses encontros”, explica Jern.

Números

Segundo o setor de imigração da Polícia Federal, somente a população de haitianos soma 2.700 pessoas em Cascavel. Parte delas está na cidade ainda como refugiada, já que saíram de seu país por conta de desastres naturais e a falta de emprego. Nestes casos, eles aguardam o visto de permanência. O total geral de imigrantes e refugiados não foi repassado pela PF até o fechamento desta edição.

Já o Ministério da Justiça repassou dados de solicitações de refúgio entre janeiro e julho deste ano. Ao todo, foram 112.300 solicitações distribuídas entre 157 países. Deste total, 50.566 são de haitianos. Em seguida estão os venezuelanos, com 11.502 solicitações. “No Brasil, assim como em Cascavel, a maioria dos imigrantes e refugiados são haitianos. Porém, aqui na cidade há uma grande movimentação de sírios e venezuelanos”, diz o padre, que também é imigrante e saiu do Haiti há quase dez anos para atuar como missionário.

Haiti       50.566
Venezuela 11.502
Senegal 8.260
Síria 4.250
Angola 4.134
Bangladesh 3.854
7º           Cuba 3.580
Nigéria 2.933
Congo 2.287
10º Gana      2.260   

Fonte: Ministério da Justiça

   

Ela veio do Haiti

Foto: Aílton Santos

Ilsine Bartheleny veio do Haiti há cinco anos com o marido e dois filhos. Em Cascavel, encontrou um novo lar e teve a chance de trabalhar por muito tempo em um frigorífico local. Hoje, mesmo com poucos recursos, Ilsine admite: “O Brasil é bem melhor que o Haiti, nos dá mais possibilidades de trabalho, de mudar de vida. Não pretendo voltar para lá. Vim a Cascavel para ficar”, afirma.