Cotidiano

‘Se for verdade atrapalha tudo’, diz principal aliado de Cunha

Tão logo as denúncias foram publicadas pelo GLOBO, um clima de inquietude se instalou nos corredores do Palácio do Planalto. Vários deputados que estavam reunidos para tratar de reforma da Previdência com o ministro Antonio Imbassahy ficaram na mão, à espera do ministro, que está reunido com o presidente Michel Temer.

— Se for verdade atrapalha tudo — disse o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), presidente da comissão especial da reforma da Previdência e principal aliado de Cunha na Câmara.

No banheiro do quarto andar do Planalto, o deputado Pauderney Avelino, ex-líder do DEM na Câmara, disparou:

— Puta que o pariu. Desgraça pouca é bobagem.

Filho do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, que está preso e é réu em diversos processos da Operação Lava-Jato, o deputado Marco Antonio Cabral (PMDB-RJ) preferiu não comentar a notícia:

— Po, logo eu? – antes de deixar o prédio do Planalto, também sem conseguir falar com o ministro Imbassahy.

O presidente Michel Temer foi gravado pelo dono da JBS Joesley Batista, dando aval para o pagamento de propina ao deputado cassado Eduardo Cunha em troca do silêncio dele. Diante de Joesley, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS). Posteriormente, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley.

Temer também ouviu do empresário que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada na prisão para ficarem calados. Diante da informação, Temer incentivou: "Tem que manter isso, viu?".

Aécio Neves também foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley. O dinheiro foi entregue a um primo do presidente do PSDB, numa cena devidamente filmada pela Polícia Federal. A PF rastreou o caminho dos reais. Descobriu que eles foram depositados numa empresa do senador Zeze Perrella (PSDB-MG).

Em negociação para fechar acordo de delação premiada, Joesley relatou também que Guido Mantega era o seu contato com o PT. Era com o ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff que o dinheiro de propina era negociado para ser distribuído aos petistas e aliados. Mantega também operava os interesses da JBS no BNDES.