O relógio não marcava 9h da manhã deste sábado, mas jarras de cerveja e refrigerante já eram servidos com cachorro quente (com direito a queijo ralado e batata palha) no camarote do Moça Bonita, palco da final da Taça das Favelas. Na primeira decisão, as mulheres do Corte Oito chegaram ao bicampeonato ao vencer o Complexo Coreia por 2 a 0. Em seguida, num clássico do Bairro, Vila Aliança ganhou de virada do Jardim Bangu, por 2 a 1, na decisão masculina.
Além de jogadores com apelidos como Neném, Alface, Cheiroso e Mumussinha, a Taça das Favelas tem facetas românticas que dão mais doses de humildade e superação à competição. Por exemplo, se houvesse um prêmio de time mais compacto certamente ele seria dado ao Complexo da Coreia. O treinador Carlão explica:
– Por ser final, conseguimos um ônibus hoje. Mas em todos os outros jogos fomos na minha doblô, ano 2007. Todas as meninas cabiam lá dentro. Iam cerca de 12, 13 pessoas dentro do carro para os jogos. O recorde é 14. Mas, dentro da comunidade, cabe até mais porque algumas vão penduradas do lado de fora.
Carlão ri, mas admite que o transporte superlotado ajudou a unir o time. Rhaizza, autora do primeiro gol do jogo, concorda com o treinador sobre a doblô. Em relação ao jogo, a felicidade era tanta após o apito final que ela não se lembrava de como havia marcado. O outro gol foi marcado por Carolaine, mais conhecida como Kauê.
Após o jogo, Complexo Coreia e Corte Oito se juntaram atrás da arquibancada para descansar numa rara sombra do estádio. Antes mesmo da água chegar, duas jogadoras, das melhores em campo, já haviam se destacado do grupo para fumar um cigarro.
A VIRADA DE VILA ALIANÇA
Enquanto as meninas se recuperavam do jogo, os meninos entraram em campo para a decisão. Logo no início, Vila Aliança já mostrou que daria trabalho, mas o Jardim Bangu conseguiu um escanteio após contra-ataque. Na cobrança, Juquinha, que se chama Pedro, fez de cabeça.
Vila Aliança pressionou o tempo todo. E conseguiu a virada, no segundo tempo, com Alex e Dalton. A comemoração do título foi efusiva. Curiosamente, Neném, que foi eleito o melhor jogador do torneio jogando pelo Vila Aliança, é morador do Jardim Bangu. A partida foi limpa, mas a enorme tensão que rondava os jogadores não passou desapercebida após o apito final.
Futebol raiz na final da Taça das Favelas
– No Jardim Bangu, tem uma galera de maneira, mas tem um ou outro que são cheios de marra. No Facebook, eles falaram que iam atropelar a gente. O negócio ficou quente por lá. Mas agora mostramos que somos os campeões – disse Neném.
Pelo prêmio de melhor jogador do torneio, Neném ganhou R$ 500. Perguntado pela reportagem sobre qual seria o destino do dinheiro, o menino de 16 anos foi direto:
– Vou dar todo para a minha mãe, claro.