Esportes

Seleção feminina de futebol sonha de novo com o ouro

RIO ? O cabelo preso num coque alto, cinco percings, incontáveis tatuagens, sobrancelha e maquiagem definitivas que emolduram os olhos verdes. Esta é Barbara Micheline. Porém, só um olhar desatento acha que essas características são capazes de esconder a força da goleira titular da seleção brasileira de futebol.

Futebol_femininoNesta quarta-feira, às 16h, no Engenhão (com transmissão da TV Globo e do Sportv), as meninas estreiam contra a China, e em jogo está muito mais do que o início do caminho para o ouro. Entram em campo a busca por reconhecimento, um futebol de base de verdade, clubes competitivos, quebra de preconceito e afirmação nos cenários nacional e internacional. Parece muito, mas elas tiram isso de letra, e com talento, alegria e maestria a seleção feminina começa, mais uma vez, o caminho para driblar adversárias mais estruturadas.

Hoje, será a primeira prova de fogo para um projeto inovador ? que já tem pouco mais de dois anos ?, idealizado por membros da comissão técnica brasileira: a seleção permanente. Criada para suprir a ausência de clubes e para profissionalizar as jogadoras, ela já apresenta resultados.

DOS CAMPINHOS PARA A SELEÇÃO

Se a ideia era manter as meninas em atividade e concentradas, os frutos estão aí: a maioria das jogadoras passou pelo futebol europeu ou está em clubes. Normalmente pela falta de escolinhas e treinos desde a infância ? como acontece nos Estados Unidos e na Alemanha, potências no futebol feminino ?, uma atleta no Brasil sai direto dos campos de pelada para a seleção. É lá que começa a ter noções maiores de técnica, competitividade e ganhar corpo com consciência.

? O projeto já trouxe frutos. Hoje, das 22 jogadoras da seleção, só cinco ainda estão na permanente. Elas foram crescendo e se profissionalizando, e, com isso, foram despertando o interesse de grandes clubes como Barcelona e Paris Saint-Germain. Isso é bom porque dá competitividade e segurança a elas. Significa que o trabalho está dando certo. Começamos hoje a nossa maior prova de fogo ? explica Marco Aurélio Cunha, coordenador do futebol feminino.

A falta de base é um dos maiores problemas da seleção. Ao mesmo tempo em que dá molejo, improviso e autenticidade para a seleção, diminui a competitividade e o rendimento. No entanto, a solução é temporária. O sonho é que os clubes, escolas e federações deem oportunidades para as meninas praticarem futebol e, assim, começarem a vencer a barreira do preconceito.

? Eu fui umas das poucas que ainda tiveram alguma base. Quando jogava no Botafogo-PB tinha até preparador de goleira. Isso, bem nova. Mas no resto me lembro que vivia de jogar pelada com meninos, minha tia, que era mais velha, e minha mãe, que também jogavam comigo para eu praticar. Quantas escolas existem que têm todas as modalidades para ambos os sexos? Quantas têm futebol feminino? Não tem! É difícil, você acaba queimando etapas e gerando o conceito de que futebol não é coisa de mulher. É, sim. Só precisa dar a oportunidade, ter espaço ? conta Barbara, hoje com 28 anos.

Maior artilheira de Jogos Olímpicos, Cristiane faz coro com a companheira de seleção. E vai além, lembrando o machismo entranhado nos argumentos:

? Essa semana teve uma história de pais de meninos contestando um resultado de um campeonato em que as meninas venceram o time dos garotos. O que é isso? Machismo. Não tem essa de que bate menos porque está jogando contra meninos. A gente não economiza. Isso é machismo. Por causa da falta de oportunidade, muitas meninas acabam desistindo ? analisa Cristiane, aproveitando para falar do que pode mudar. ? Para a gente, a medalha de ouro é mais que a medalha. Queremos muito ganhar esse ouro, pela realização pessoal, por sabermos que estamos prontas e merecemos. Mas, uma atletas de futebol quando começa a jogar, ela queima etapas. Porque não tem escolinha, não tem futebol de base, passamos a maior parte da vida jogando pelada e correndo atrás do sonho. Às vezes, a seleção é uma das primeiras oportunidades. Por isso, digo que queremos mais que medalhas, queremos um modelo para o futebol feminino que dê certo. Se tivermos que copiar um modelo lá de fora, universitário, na escolas, que seja. Mas precisamos de espaço e base para que novas meninas competitivas possam surgir.

A seleção deve entrar em campo com Barbara, Poliana (Fabiana), Monica, Rafaelle e Tamiris; Thaisa, Formiga, Andressa Alves e Debinha; Marta e Cristiane.

JOGOS DESTA QUARTA-FEIRA

13 horas: Suécia x África do Sul, no Engenhão, pelo Grupo E

15 horas: Canadá x Austrália, no Itaquerão, pelo Grupo F

16 horas: Brasil x China, no Engenhão, pelo Grupo E

18 horas: Zimbábue x Alemanha, na Arena Itaquera, pelo Grupo F

19 horas: Estados Unidos x Nova Zelândia, no Mineirão, pelo Grupo G

22 horas : França x Colômbia, no Mineirão, pelo Grupo G