O Neymar que, em março, deixou Recife ? após seu mais recente jogo pela seleção brasileira ? suspenso da partida seguinte das eliminatórias, estava envolto em questionamentos. À época, até na CBF se falava em falta de comprometimento, relação ruim com Dunga, vida agitada fora de campo. Sob este aspecto, gerava curiosidade a presença de um dos três melhores do mundo num elenco quase todo sub-23. E sob o comando de uma comissão técnica com vivência, majoritariamente, em times de base.
Até aqui, as referências do técnico Rogério Micale e do coordenador da base da CBF, Erasmo Damiani, são elogiosas ao craque. Falam em perfeita integração. Neymar transmitiu tranquilidade, e não apreensão, ao comando do time olímpico. Micale e até Tite, quando visitou a delegação em Teresópolis, tentaram tirar todo o peso da conquista do ouro das costas do atacante. No entanto, a diferença de status na carreira torna quase automático que o atacante do Barcelona concentre a esmagadora maioria das atenções.
O aspecto físico causou boa impressão. Neymar teve longas férias, as mais extensas desde que começou a atuar como profissional pelo Santos. Jogou pelo Barcelona no dia 22 de maio e, em seguida, um acordo entre o clube catalão e a CBF o tirou da Copa América. Sua volta ao trabalho, na teoria, aconteceria no dia 18 de julho, quando a seleção olímpica se apresentou. Visto em intensa agenda social, Neymar também reservou espaço para duas semanas de trabalho com seu preparador físico pessoal, Ricardo Rosa, que acompanha o jogador também em Barcelona. O objetivo era minimizar os efeitos do tempo parado e antecipar a volta ao trabalho. Um planejamento integrado com a seleção olímpica.
? Tive um contato com o Marquinhos (Marcos Seixas), sobre os métodos que uso, para que ele possa dar continuidade na seleção ? disse ao GLOBO Ricardo Rosa.
TREMENDO DIANTE DO CRAQUE
Ele conta que, no Guarujá, foi montada uma estrutura para preparar Neymar, incluindo academia e um campo de futebol society. O jogador fez trabalhos de força e uma introdução a treinos técnicos, com bola, reduzindo a falta de ritmo.
? É o que chamamos de preparação básica, para que ele chegue à seleção numa condição satisfatória. Foram treinos diários em dois períodos, totalizando entre duas e três horas por dia ? afirma o preparador, que diz enviar relatórios dos treinos que faz com Neymar para Barcelona e CBF.
Há algo além do ouro em jogo para Neymar na Olimpíada. Ao contrário de Messi, já tem um título significativo com a seleção brasileira, quando foi protagonista na conquista da Copa das Confederações, em 2013. E tem números impressionantes, como os 46 gols em 70 jogos pelo Brasil.
Mas é o astro do país em um período de resultados ruins da seleção. Esteve na perda da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012; suspenso por cartões, desfalcou o time na reta final e eliminação da Copa América de 2015 e em parte das eliminatórias, competição em que a seleção claudica. Na Copa do Mundo, não teve culpa no fatídico 7 a 1: sofrera uma lesão nas quartas de final, contra a Colômbia. Mas pode atingir novo patamar se ajudar a seleção a reencontrar resultados.
Na Granja Comary, Neymar é mais uma liderança técnica do que o jogador que toma a palavra a todo instante. Acima de tudo, a percepção no ambiente da seleção é de um ?ídolo palpável?, ou seja, o jogador que atingiu o status que todos os jovens sonham ter e que, de repente, convive com eles numa seleção brasileira. E compartilha brincadeiras com os mais jovens. Afinal, tem apenas 24 anos, só um ano a mais do que o limite olímpico de idade. Não é tão mais velho do que parte do elenco. Mas o olhar para Neymar guarda boas doses de reverência.
? Minha ficha ainda não caiu, ainda mais quando ele postou uma foto comigo no Instagram dele. É o sonho de toda criança conhecer e jogar com ele ? disse o volante Thiago Maia, do Santos, que revela, no entanto, ter Mascherano como maior ídolo. Mas… ? Meu pai pediu para eu gravar um vídeo do Neymar falando alguma coisa para ele. Só que eu ainda fico meio tímido quando chego perto dele, fico meio tremendo. Falei para o meu pai: ?Calma, vou pedir o vídeo?. Mas ele pressiona: ?Olha lá, moleque, manda o vídeo, preciso fazer bonito aqui em Roraima?.
Em campo, é o aspecto técnico que mais chama atenção.
? Vejo os jogos do Barcelona e ninguém para o Neymar. No treino, eu falo: ?Olha, o professor mandou você jogar lá do outro lado? ? brincou o lateral William, do Internacional.