Esportes

Milton Mendes e a chance de afirmação no Vasco

26066511731_f0a7c423b4_k.jpgDentro de campo, um defensor de um jogo construído desde a defesa através de trocas de passes, de um modelo ofensivo. Fora dele, chama atenção o vasto currículo acadêmico, com direito a um diploma que raros treinadores no Brasil possuem: a licença Uefa Pro, a mais importante da Europa, que permitiria a Mílton Mendes, 51 anos, novo técnico do Vasco, dirigir qualquer clube do Velho Continente. Vasco x botafogo

A formação como treinador aconteceu em Portugal, país que, nas últimas duas décadas, caracterizou-se por lançar vasta literatura e muitos treinadores de ponta no mercado, de José Mourinho, hoje no Manchester United, a Leonardo Jardim, no topo graças ao ótimo desempenho do seu Monaco, um dos oito times ainda vivos na Liga dos Campeões.

A carreira do lateral-direito Mílton Mendes, que iniciara no próprio Vasco, entre 1984 e 1987, terminou no modesto Machico, hoje sem atividade profissional. Mendes decidiu permanecer em Portugal para estudar: começou a colecionar licenças da Uefa e trabalhos em clubes de menor porte do país. Passou quatro anos no Qatar e chegou ao Brasil para treinar o Paraná, em 2014. Em seguida, por indicação do Atlético-PR, foi contratado pela Ferroviária-SP. Os dois clubes tinham uma parceria e o trabalho no interior paulista foi visto pelos paranaenses como um laboratório, que levou Mendes ao Atlético.

Desde então, conviveu com problemas comuns aos técnicos do país: os trabalhos curtos, apesar dos elogios pela boa organização dos times e pelo jogo ofensivo.

Conquistas no Santa Cruz

No Atlético-PR, ficou apenas cinco meses; no Santa Cruz, nem as conquistas do Campeonato Pernambucano e da Copa do Nordeste, em 2016, impediram que o trabalho durasse mais do que cinco meses. Na ocasião, o próprio treinador pediu demissão. Dias antes, em meio a uma sucessão de resultados ruins no Campeonato Brasileiro, surgiram em Recife relatos de forte desgaste com os jogadores que, no entanto, foram a público apoiá-lo, interrompendo uma entrevista coletiva de Mendes após uma derrota para a Ponte Preta, em casa, por 3 a 0. O técnico saiu, mas o Santa Cruz, conforme previsto, foi rebaixado.

O início de 2016 marcava a ascensão de Mendes, sua afirmação no cenário nacional como um dos técnicos mais promissores do país. Ao falar dos títulos ganhos em Recife, deixava claro que a dificuldade de entrar no circuito dos grandes clubes do país o incomodava.

? Aqui no Brasil, acham que você precisa nascer grande. Eu estou preparado ? disse ao GLOBO, em entrevista no ano passado.

Adepto da soma entre conhecimento acadêmico e experiência prática, o treinador usa o 4-2-3-1 como sistema que serve de base a uma série de variações no decorrer dos jogos, chegando a usar o 4-3-3 e até o 4-2-4 em fases ofensivas. No entanto, defende a adaptação ao rival.

?Nem sempre é possível ir de peito aberto. É preciso saber se você tem uma Ferrari ou um Fusca ? diz.

Costuma falar com empolgação sobre modelos de treinamento que conduzam à boa execução do jogo, à aproximação entre jogadores para gerar opções de passe, o que técnicos chamam de jogo apoiado. Diz ter como meta fazer o jogador de futebol ser mais capaz de tomar decisões.

? Mostro e eles nosso jogo e pergunto: ?Por que você está aqui??, ?Por que esta opção?? É importante isso. O Brasil precisa estimular o jogador de futebol a pensar mais ? afirma.